Aliados lançam 175 ataques contra alvos de Kadafi

Forças da coalizão derrubam avião líbio e bombardeiam tanques e artilharia antiaérea

BENGHAZI – Num dos dias mais violentos na Líbia desde o início da intervenção militar, no sábado, a coalizão lançou ontem 175 ataques, com mísseis e projéteis de artilharia aérea, contra as forças de Muamar Kadafi, que tentavam avançar sobre posições rebeldes. Um dos alvos foi um complexo militar em Ajdabiya e objetivos do regime de Kadafi em Zawiya.

As forças aliadas lançaram vários ataques ontem contra alvos militares em Trípoli, destruíram um avião da Força Aérea líbia e atacaram tropas de Kadafi onde elas ameaçavam a população civil. Em Misrata, aviões ocidentais silenciaram, pelo menos temporariamente, os tanques e a artilharia nas imediações da cidade tomada pelos rebeldes.

Durante o dia, foi divulgada a notícia de que os líderes rebeldes tinham anunciado a formação de um governo transitório, com a tarefa de organizar melhor a luta contra o regime de Kadafi e ao mesmo tempo garantir a integridade territorial da Líbia. No entanto, à noite, os rebeldes desmentiram a informação.

A “estrutura” mais requerida de imediato é um comando militar para os combatentes rebeldes na luta contra as forças do regime. Armados com fuzis e peças de artilharia, enquanto os soldados de Kadafi têm grande quantidade de foguetes e tanques, os rebeldes combatem de forma desorganizada e só conseguem manter suas posições graças aos bombardeios das forças aliadas.

Diante dos ataques das forças internacionais, as tropas leais a Kadafi detiveram sua ofensiva. Segundo o contra-almirante americano Gerard Hueber, as forças do líder líbio continuam violando a resolução do Conselho de Segurança da ONU ao atacar a população civil. Por isso, os aliados estão agora atacando as forças terrestres, a artilharia e os mísseis móveis de Kadafi.

Hueber informou que nas últimas 24 horas a coalizão realizou 175 missões de combate – das quais 113 foram das forças americanas e as restantes dos outros membros da aliança.

Ontem à noite, foram retomados os bombardeios contra Trípoli pelo quinto dia consecutivo. Testemunhas na capital líbia, afirmam que escutaram ao menos oito explosões. Segundo a TV estatal, os ataques estão sendo concentrados no bairro de Tayura, ao sul da capital.

A TV mostrou imagens de uma casa destruída, mulheres chorando e homens carregando numa maca uma garota ensanguentada. Um homem gritou: “Uma família toda foi morta.” Uma legenda na TV dizia: “O imperialismo cruzado bombardeia civis.” Kadafi classificou a intervenção aliada de “cruzada colonialista”.

Aviões das forças aliadas bombardearam ontem as baterias de foguetes do regime em Misrata, a terceira maior cidade do país, 203 km a leste de Trípoli. A cidade de 450 mil habitantes está cercada pelas forças de Kadafi. Moradores disseram à agência Reuters que as baterias foram neutralizadas, mas a cidade continua sendo atacada por franco-atiradores. Pelo menos 40 pessoas morreram e 180 ficaram feridas nos últimos três dias, segundo os rebeldes.

A oposição afirmou ter forçado o recuo de tropas que estavam disparando artilharia contra a cidade de Zintan, 120 km ao sul de Trípoli. Depois de cinco dias de confronto, os rebeldes disseram à Associated Press ter destruído vários tanques e confiscado caminhões com 1.200 foguetes Grad e tanques de combustível, além de capturar cinco soldados.

O impasse continua em Ajdabiya, 160 km a leste de Benghazi, a “capital” rebelde. Os combatentes não conseguem forçar a retirada das forças de Kadafi – que são apoiadas por baterias de foguetes e tanques – dos arredores da cidade.

Ajdabiya, de 150 mil habitantes, está há uma semana sem água e eletricidade. Suas áreas residenciais foram duramente bombardeadas.

O Estado percorreu ontem 50 km ao sul de Benghazi, até a cidade de Soluk, no deserto. Lá, várias fontes informaram que a posição mais avançada das forças de Kadafi é Zawiyat Massus, a 130 km de Benghazi. Segundo rebeldes e moradores na cidade, foi lá que um avião americano bombardeou um comboio das forças de Kadafi, na madrugada de terça-feira.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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