Ele pretendia ver a celebração da suposta retomada do complexo petrolífero de Brega, 230 km a oeste de Benghazi. Acabou assistindo ao massacre de cerca de 20 civis, incluindo o amigo líbio que o acompanhava, e tendo de correr e passar a noite escondido no deserto para não ser morto.
BENGHAZI – O ex-deputado e escritor alemão Jürgen Todenjofer, que tem acompanhado os conflitos e mais recentemente os movimentos pró-democracia no mundo árabe e muçulmano, disse ter vivido na pele ontem o fato de que as kataeb, as brigadas de Muamar Kadafi, estão alvejando civis propositalmente.
Todenjofer pegou a estrada de Benghazi para Brega na segunda-feira com a fotógrafa alemã Julia Leeb e o empresário líbio Abdul-Latif al-Jaaki. “Estávamos em dúvida sobre se Brega estava de fato nas mãos dos rebeldes. As notícias eram conflitantes”, contou o escritor, autor de “Why do We Kill”, sobre as intervenções ocidentais no Afeganistão e no Iraque. “Mas nos animamos ao ver passando carros com famílias voltando para Brega. Lembro-me de um menino fazendo o sinal de vitória pela janela de um dos carros.”
Quando se aproximavam de Brega, eles encontraram cinco carros de passeio, aparentemente das famílias que eles tinham visto antes, e uma caminhonete, que poderia ser de combatentes rebeldes, destruídos por foguetes. Quando saíram do carro para olhar, eles próprios passaram a ser atacados. Saíram de trás dos carros para mostrar que eram civis desarmados, mas os soldados continuaram disparando contra eles.
Al-Jaaki morreu na hora. Todenjofer e Julia saíram correndo e conseguiram esconder-se numa duna. Continuaram ouvindo as explosões por duas horas. Passaram a noite no deserto. No dia seguinte, foram resgatados por um general rebelde. “Posso afirmar, pelo que vi, que as aqueles membros das kataeb atacaram civis de propósito”, concluiu Todenjofer.
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