Forças de Kadafi lançam ofensiva para conter avanço rebelde rumo a Trípoli

Tropas do regime e opositores travam intensa batalha pelo controle de Bin Jawad, 620 km a leste da capital

RAS LANUF, Líbia – Forças leais ao ditador Muamar Kadafi e combatentes rebeldes se enfrentaram ontem numa intensa batalha pelo controle da cidade de Bin Jawad, 620 km a leste da capital, Trípoli. Dois mortos e 36 feridos foram levados ao hospital de Ajdabiya, mas o número pode ser muito maior, pelos relatos dos combatentes ouvidos pelo Estado. Os rebeldes, que disseram ter derrubado um avião Sukhoi e dois helicópteros do tipo Apache, acusaram os soldados leais ao regime de disparar contra eles foguetes antiaéreos, entre outros armamentos pesados.

Situada 430 km a leste de Benghazi, a principal cidade controlada pelos rebeldes, Bin Jawad transformou-se ontem na linha que demarca os territórios controlados por Kadafi, a oeste, e pelos oposicionistas, a leste. Os rebeldes usaram como base para seus ataques o complexo petroquímico de Ras Lanuf, 45 km a leste de Bin Jawad, cujo controle eles tomaram na noite de sábado.

Depois de tomar Ras Lanuf, os rebeldes seguiram avançando e ocuparam Bin Jawad no sábado mesmo, sem encontrar resistência. Moradores da cidade disseram que não queriam envolver-se no conflito e receberam bem os combatentes anti-Kadafi. Entretanto, na manhã de domingo, integrantes das Kataeb, forças especiais leais ao regime, apoiadas por alguns moradores, atacaram os rebeldes. Dezenas deles foram rendidos dentro de uma mesquita, onde haviam passado a noite.

Os rebeldes contaram ao Estado que os soldados leais ao governo estavam invadindo as casas dos moradores e disparando de dentro delas. O engenheiro Mohamed al-Fahri, de 26 anos, e os primos Ahmed Zuweiry, engenheiro eletricista, e Youssef, pintor de casas, ambos de 31 anos, disseram que os soldados do governo estavam usando baterias antiaéreas num ângulo de 0 grau, ou seja, diretamente contra os inimigos, quando o ângulo normal é de 30 graus, contra aviões. Várias casas foram destruídas pelos foguetes.

Mais tarde, no hospital de Ajdabiya, 245 km a leste de Bin Jawad, o Estado encontrou vários feridos com fragmentos desses foguetes. “Viemos rezar e vamos voltar para Bin Jawad”, disseram Al-Fahri e os primos Zuweiry, na barreira erguida pelos rebeldes na saída de Ras Lanuf. Às 16h30, um combatente de barba, óculos escuros e lenço quadriculado na cabeça chegou numa caminhonete e começou a gritar para os homens que se aglomeravam na saída de Ras Lanuf: “Para que vocês vieram, se foi para ficar olhando uns para outros aqui? Os homens de Kadafi estão nos matando com armamento pesado em Bin Jawad. Vão todos para lá!” Vários carros saíram em disparada e em poucos minutos, o local ficou quase vazio.

As forças rebeldes são formadas quase exclusivamente por voluntários civis, armados com fuzis Kalashnikov, bazucas e peças de artilharia recolhidas nas bases do Exército nos primeiros dias do levante, há duas semanas. Tanto a imensa maioria de civis quanto os poucos militares atuam de forma espontânea, reunindo-se em pequenos grupos, sem comando. Tanques do Exército estariam se deslocando ontem pelo deserto de Benghazi para Bin Jawad, disse ao Estado, pelo telefone, um combatente que acompanhava o comboio, sem fornecer mais detalhes.

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