Líder religioso defende soldados desertores

Durante sermão, imam Yousri a-Haddar diz que população não deve ter suspeitas sobre o apoio do Exército

BENGHAZI – Cerca de 15 mil pessoas se reuniram ontem na Praça dos Mártires para a oração do meio-dia, a mais importante da semana muçulmana, convertida em ato de protesto contra o regime de Muamar Kadafi, de solidariedade aos combatentes e em favor da imposição de uma zona de exclusão aérea pela comunidade internacional, para impedir os bombardeios contra alvos rebeldes.

No sermão, o clero de Benghazi, a maior cidade controlada pelos rebeldes, com 1 milhão de habitantes, demonstrou mais uma vez sua preocupação em defender os militares desertores, e aplacar as críticas por sua ausência na frente de batalha, conduzida quase exclusivamente pelos “shebab” (jovens), os revolucionários civis.

“Não tenham suspeitas sobre o Exército”, disse o imam Yousri al-Haddar, que fez o sermão. “Nós acreditamos no Exército. Temos certeza de que ele nos apóia.” O líder religioso lembrou que Kadafi “destruiu o Exército”, tornando-o propositalmente fraco, enquanto proporcionava o melhor equipamento e treinamento para as “kataeb” (“brigadas”), as forças de elite que o apoiam.

Enquanto o imam falava, um navio de guerra da Marinha líbia navegava na costa mediterrânea, de frente para a praça, rumo a leste. Além desse, outros dois navios de guerra estão ancorados no porto de Benghazi. Supostamente, esses navios estão sob o comando de oficiais rebeldes, que desobedeceram às ordens de disparar contra os manifestantes no assalto ao quartel-general das kataeb em Benghazi, entre os dias 17 e 20.

Mas, assim como a maior parte do armamento pesado e do efetivo do Exército, a Marinha não se engajou na luta contra as forças leais a Kadafi. Se um dos navios ancorados em Benghazi estivesse na costa de Ras Lanuf, 380 km a oeste da cidade, o desfecho da batalha de quinta-feira poderia ter sido outro. As kataeb usaram um cargueiro para transportar suas tropas e três barcos menores para disparar foguetes contra Ras Lanuf e depois desembarcar na cidade. Há dúvidas não só contra a disposição dos comandantes rebeldes de lutar, mas também quanto ao estado de conservação e capacidade operacional dos navios e tanques.

Depois da oração de ontem, a maior parte da multidão continuou na praça para a manifestação. Uma fila de 40 médicos segurava cartazes e gritava slogans pedindo a zona de exclusão aérea. Havia faixas também afirmando que tudo o que os líbios querem é democracia e liberdade, e agradecimentos à França, pelo seu reconhecimento do Conselho Nacional, a liderança rebelde, como o legítimo governo da Líbia.

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