Em entrevista ao ‘Estado’, membro da coalizão revolucionária diz que forças armadas rebeldes ainda estão se organizando
BENGHAZI – O que os líderes do levante contra o ditador Muamar Kadafi querem dos Estados Unidos e das outras potências ocidentais é uma zona de exclusão aérea para que as forças leais ao regime não possam bombardear as cidades controladas pelos rebeldes. Forças terrestres estrangeiras não seriam bem-vindas. Foi o que explicou ontem ao Estado Zahi Mogherbi, um dos 20 membros da Coalizão Revolucionária, a direção política do movimento, que nomeou os integrantes dos conselhos locais para administrar as cidades “liberadas” e deverá conduzir a transição depois de uma eventual queda de Kadafi.
Na segunda-feira, os militares rebeldes afirmaram que sua artilharia antiaérea derrubou dois aviões das forças leais a Kadafi perto de Misratah, a leste de Trípoli. Já em Awjilah, 150 km ao sul de Benghazi, a Força Aérea bombardeou paióis de armas e munições controlados pelos rebeldes.
Professor de ciência política da Universidade Garyounis, Mogherbi, de 65 anos, contou que participou da realização de dois trabalhos encomendados por Seif al-Islam, filho de Kadafi: um esboço de Constituição – que a Líbia não tem – e um estudo de cenários políticos e econômicos, que previa a explosão popular atual, se não houvesse reformas. Ambos foram ignorados pelo regime.
Como o sr. acha que esse conflito vai acabar?
No final Kadafi renunciará, porque ele perdeu toda a credibilidade. A questão é quanto isso vai custar em vidas humanas. Se tivesse um instante de sanidade, ele renunciaria. Ninguém gosta dele nem dos filhos dele. Só está prolongando o sofrimento do país.
Que forças se mantêm leais a Kadafi?
Os Kataeb Amin (forças especiais) e os mercenários. Ele não hesitaria em usá-los com toda a brutalidade. Por isso pedimos a zona de exclusão aérea. Precisamos que o mundo o pressione. Não queremos forças terrestres estrangeiras.
O que está sob o controle de cada lado?
Kadafi controla apenas Trípoli, Sirt e Sabha, e há cidades no oeste que consideramos neutras. O resto é controlado por nós, incluindo as cidades próximas aos campos de petróleo do sul.
Que regime deve ser adotado na Líbia?
Prefiro o parlamentarismo, porque o presidencialismo seria o governo de um homem forte, que poderia tornar-se outro ditador. Quando Seif al-Islam anunciou o programa Líbia de Amanhã, participei da elaboração de um esboço de Constituição, entre 2005 e 2008. Não foi levado adiante. Em 2007, presidi a comissão de 13 intelectuais que encomendou estudos políticos e econômicos de 80 especialistas. Um dos cenários previa que, se fossem feitas reformas, haveria uma explosão popular. Foi o que aconteceu.
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