Oposicionistas tentam evitar desânimo em Benghazi

Apesar das derrotas recentes, rebeldes ainda acreditam em vitória sobre o governo

BENGHAZI – As derrotas no fronte, a diminuição dos manifestantes e os sinais de que um assalto contra Benghazi se aproxima não abateram o ânimo das centenas de pessoas que foram ontem à Praça dos Mártires, o berço da “Revolução”. “Não estamos com medo”, disse Hanen Tarrussi, de 38 anos, ex-funcionária do arquivo da TV estatal, coberta da cabeça aos pés com um chador (véu e vestido) preto. “A vitória virá mais cedo do que tarde. Ficaremos aqui. Não iremos a lugar nenhum.”

O marido de Essia el-Abeid foi participar da defesa de Ajdabiya, 160 km a oeste de Benghazi, contra o avanço das forças do ditador Muamar Kadafi. À pergunta sobre se apoiou a decisão do marido, de 25 anos, que trabalha fazendo biscates, Essia, de 24, respondeu: “Eu queria ir com ele para apoiá-lo, mas lá não está seguro agora para mulheres. Talvez mais tarde.” O casal tem uma filha de quatro anos e um filho de oito meses.

“Estou muito triste com o avanço das kataeb (brigadas leais ao regime)”, disse Aisha al-Firjani, de 50 anos. “Não queremos que tudo isso tenha sido em vão”, continuou ela, apontando para as fotos de jovens mortos nos confrontos com as forças de segurança, exibidas na praça. “Fiquei tão feliz com o que conseguimos até agora!” Aisha conta que mora com os cinco filhos – entre 14 e 25 anos de idade – perto do quartel-general das kataeb em Benghazi, palco da batalha dos dias 17 a 20 entre manifestantes, apoiados pelo Exército, e os soldados da força de elite, que acabaram fugindo. Seu filho de 25 anos levou um tiro no peito. Ele agora passa bem. Ao fugir, atirando a esmo, os membros das kataeb atingiram os dois carros da família.

“Kadafi não poderá entrar, porque todo mundo na região leste vai morrer lutando contra ele”, previu Ahmed Aguri, um estudante de economia de 21 anos. “Nosso moral está alto.” Aguri não demonstra frustração com a aparente falta de engajamento do Exército regular desertor, no campo de batalha: “Falta armamento para eles, mas estão fazendo o melhor que podem.” Os manifestantes não esperam uma renúncia do ditador: “O ego de Kadafi não lhe permitiria ir para a prisão e ser julgado”, considera Amr Feitouni, também de 21 anos, colega de Aguri na Universidade Garyounis.

Omar Bushatili, de 38 anos, dono de uma agência de chamadas telefônicas, diz que lutou em Brega e em Ras Lanuf, até que o Exército chegou e pediu aos combatentes civis que recuassem, há uma semana. “Eles estão lutando, mas o desequilíbrio de forças é muito grande. As kataeb usam aviões e navios.”

Mohamed Bargassi, de 50 anos, empregado numa companhia de eletricidade, diz que é por isso que a comunidade internacional precisa impor com urgência a zona de exclusão aérea. “Com ela, seremos capazes de avançar até Trípoli”, afirmou ele. “Somos mais de 10 mil combatentes voluntários.”

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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