O radical Ahmadinejad e o opositor de tendência moderada Moussavi são os favoritos no primeiro turno da votação presidencial de sexta-feira
TEERÃ – Dezenas de milhares de pessoas foram ontem às ruas de Teerã manifestar apoio ao presidente Mahmud Ahmadinejad e ao seu principal adversário na eleição de sexta-feira, o ex-primeiro-ministro Mir Hossein Moussavi. Os 18 quilômetros da Avenida Vali Asr, que atravessa a capital iraniana, foram praticamente tomados pelos carros de eleitores do moderado Moussavi, enquanto os seguidores do conservador Ahmadinejad se reuniram na Grã- Mesquita de Mussala, no centro da cidade.
As manifestações começaram à tarde e prosseguiram até tarde da noite. Na madrugada de hoje, ainda se ouviam buzinas dos partidários de Moussavi, que polarizou com Ahmadinejad nessa reta final da campanha, embora haja outros dois candidatos: o reformista Mehdi Karroubi, ex-presidente do Parlamento, que disputa votos com o candidato moderado; e o conservador Mohsen Rezai, ex-comandante da Guarda Revolucionária, que deve roubar votos do presidente. Não há pesquisas confiáveis no Irã, mas tanto os integrantes da campanha de Ahmadinejad quanto de Moussavi reconhecem que a disputa está acirrada. Se nenhum obtiver mais da metade dos votos, os dois mais votados vão a segundo turno no dia 19.
Muitos carros na manifestação pró-Moussavi traziam cartazes com as fotos do candidato e do líder espiritual do Irã, aiatolá Ali Khamenei, conservador que apoiou tacitamente Ahmadinejad em sua eleição anterior, em 2005. Agora, a posição de Khamenei parece mais ambígua. Há entre os conservadores descontentamento com a retórica incendiária do presidente, que, em sua propaganda em tom desafiante do programa nuclear iraniano, e na sua insistência em negar o Holocausto e o Estado de Israel, tem atraído a hostilidade do Ocidente. Em qualquer caso, uma candidatura a presidente no Irã não tem como prosperar sem a aprovação de Khamenei.
Usando a cor verde da campanha do ex-primeiro-ministro, os manifestantes gritavam “Ahmadini-bye-bye” e “Se não fraudarem, Moussavi já ganhou”. Como noutras manifestações pró-Moussavi, era notável a participação de mulheres. O ex-primeiro-ministro faz campanha ao lado de sua mulher, a professora universitária Zaghra Rahnavard, fato inédito no Irã, e defende direitos iguais para as mulheres. A presença marcante de Zaghra nos comícios incomodou tanto que, no debate com Moussavi na semana passada, Ahmadinejad a acusou de ter forjado suas qualificações num concurso. Zaghra, destituída do cargo de reitora depois que Ahmadinejad assumiu, disse que vai processar o presidente.
Embora tenha sido prefeito de Teerã, Ahmadinejad tem mais apoio no meio rural, para onde levou eletricidade e água, e entre os mais pobres, dos quais 5,5 milhões receberam auxílio em dinheiro do governo. O governo também distribuiu, nas últimas semanas, empréstimos, subsídios para moradia e aumentos de salários e aposentadorias de funcionários públicos. Ônibus vindos do interior ajudaram a lotar ontem a área ao redor da Grande Mesquita de Mussala, onde segundo a agência EFE chegaram a se reunir 100 mil pessoas.
O diretor do Conselho Eleitoral, Kamran Daneshjoo, previu ontem que o comparecimento às urnas na sexta-feira poderá ultrapassar o recorde de 79,93% de 1997, quando o reformista Mohammad Khatami se elegeu presidente, contra as expectativas. O alto comparecimento pode mais uma vez beneficiar os moderados. Moussavi tem apoio predominante entre os jovens, numa população em que 70% tem menos de 30 anos. São eles que podem ou não sair para votar, e fazer a diferença.
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