A tradicional pregação da sexta-feira na Mesquita da Universidade de Teerã, transmitida por rádio e TV, serviu ontem para uma demonstração de apoio ao líder espiritual Ali Khamenei, na disputa pelo poder com o influente ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani
TEERÃ – Foi uma oportunidade também para mensagens subliminares em favor do voto no presidente Mahmud Ahmadinejad, apoiado tacitamente por Khamenei. “É preciso escolher um candidato que acredita na Constituição deste país, que seja cordial com todos, que se preocupe com os pobres e que cumpra suas promessas”, aconselhou o aiatolá Mohammad Emami Kashani, o autor do sermão de ontem. Cada uma dessas qualidades é reivindicada por Ahmadinejad. Falando em nome do líder espiritual, Kashani disse que votar era um dever religioso: “O Irã deve espalhar sua religião para outros países. Sem a participação do povo, como poderá fazer isso? Os inimigos querem roubar as riquezas do Irã. Votar é defender o país.”
Cerca de 50 homens com uniforme da Força Aérea se levantaram e gritaram, seguidos por uma parte dos 6 mil fiéis: “Morte aos que se opõem ao líder supremo. Morte à América. Morte a Israel.”
Num conflito público sem precedentes, Rafsanjani enviou uma carta a Khamenei, exigindo que o líder espiritual repreendesse Ahmadinejad, por tê-lo acusado de corrupção. Rafsanjani preside a Assembléia dos Especialistas, que nomeia, supervisiona e pode destituir o líder espiritual. No sistema circular de divisão do poder iraniano, ele, por sua vez, também é nomeado e pode ser destituído pelo líder.
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