Estatal começa perfuração no Irã em setembro com investimento de US$ 30 milhões
TEERÃ – Há duas décadas, a Petrobrás abandonou o campo de petróleo iraquiano de Majnoon, o maior encontrado no mundo nos anos 70, por causa da guerra Irã-Iraque (1980-88). Em 2003, a companhia voltou à região, arrematando o bloco iraniano de Tusan, com investimento mínimo de US$ 30 milhões, como ponta-de-lança de suas novas operações no Oriente Médio. E mais uma vez se vê às voltas com a instabilidade da região.
O bloco de Tusan fica no Golfo Pérsico, na embocadura do Estreito de Ormuz, que se especula que o Irã fecharia para causar o colapso do fornecimento de petróleo, caso fosse atacado pelos Estados Unidos. Como por enquanto tudo isso é hipótese, a Petrobrás segue adiante com seu trabalho no Irã. A companhia está contratando equipamentos e serviços para começar, em setembro, a perfurar a área, com 6.236 quilômetros quadrados e 80 metros de profundidade.
O bloco foi ganho com o compromisso de investir no mínimo US$ 30 milhões na sua exploração – que consiste na descoberta e avaliação da reserva. Pode encontrar petróleo como pode não encontrar. Ao contrário da maioria dos países, o Irã, depois da Revolução Islâmica de 1979, não aceita remunerar os investidores com parte da produção. A Petrobrás receberá uma remuneração pelo investimento total – que pode chegar a US$ 80 milhões. A porcentagem é segredo comercial. Varia de contrato para contrato.
Depois da exploração, vêm o desenvolvimento do campo – que é a sua preparação para que comece a produzir – e a produção, sob monopólio da estatal National Iranian Oil Company (Nioc).
A modalidade de pagamento por serviços é desinteressante para as companhias, e tem restringido os investimentos no Irã. Preocupado com a baixa taxa de investimentos estrangeiros, o governo iraniano estuda mudanças nesses contratos, para torná-los mais atraentes. “Gostaríamos de ter acesso à produção”, diz Tony Piazza, gerente-geral da sucursal da Petrobrás em Teerã. “Antes, o barril do petróleo estava US$ 20, agora está US$ 70. O custo e o risco da exploração são altos. Se você dá acesso à produção, premia mais o risco.”
Em todo caso, Piazza, em Teerã desde janeiro do ano passado, é um entusiasta do Irã: “É um país fantástico.” No Irã estão 10% dos 132 bilhões de barris de reservas mundiais de petróleo. O país produz 4 milhões de barris por dia, ou 5% da produção mundial, de 80 milhões de barris. É o quarto maior produtor e também exportador mundial, com 2,6 milhões de barris por dia.
Praticamente todas as grandes companhias de petróleo do mundo estão no Irã, com exceção das americanas, por causa do embargo imposto por Washington, e da britânica BP, que, depois de comprar a Amco, nos EUA, anunciou no ano passado que não atuaria mais no país. Campos de petróleo “gigantes” como o do Irã, diz Piazza, só se encontram no Iraque, cuja situação política e de segurança torna sua exploração inviável.
Além do petróleo, a Petrobrás tem também interesse no desenvolvimento do campo de gás de South Pars, que o Irã deve licitar num futuro próximo. Se a crise nuclear permitir.
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