‘Se nos bombardearem, sabemos aonde temos que ir’

Larijani, o negociador iraniano, acrescenta no entanto que a via diplomática não está esgotada

TEERÃ – O secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional, Ali Larijani, disse ontem que o Irã está preparado para um ataque americano. “Se quiserem bombardear alguns alvos, sabemos aonde temos que ir”, disse ele, aparentemente referindo-se aos abrigos antiaéreos construídos sob escolas e casas durante a guerra Irã-Iraque (1980-88). Por volta dos 15 anos de idade, os iranianos recebem dois meses de instruções práticas e teóricas sobre uso de armas e técnicas de sobrevivência.

“Ainda não está esgotada a via diplomática”, salientou Larijani, negociador-chefe do programa nuclear iraniano. “Se eles forem pelo bom caminho, nós também vamos. Se quiserem nos molestar, também vamos molestá-los.” Falando a cerca de 500 estudantes da Universidade Industrial Sharif, o secretário parafraseou o filósofo René Descartes: “Os EUA dizem: ‘Molesto, logo existo.'”

Segundo Larijani, o Irã não quer guerra e está disposto a provar que não busca a bomba atômica. “Queremos continuar conversando, mas sem pressões”, disse ele. “A situação mudou. Temos a tecnologia (de enriquecimento de urânio). Aceitamos com braços abertos qualquer coisa que seja lógica.” O secretário disse que os iranianos já estão com alergia de ouvir: “Parem o programa nuclear”, e que não aceitam essa hipótese.

“Toda ação tem uma reação”, insistiu Larijani, cujo Conselho está diretamente subordinado ao líder espiritual, Ali Khamenei, e que está encarregado de formular políticas estratégicas. “Obrigar-nos e pressionar-nos vai causar uma reação. Conversar pacificamente causará outra reação. A bola está no campo deles. O que querem fazer com ela?”

“Se estão pretendendo nos enganar, é bom que saibam que temos cabeça, não somos tontos”, disse Larijani, que arrancou muitos aplausos e risadas dos estudantes, em sua maioria homens, durante mais de duas horas de palestra seguida de perguntas. “(A secretária de Estado americana, Condoleezza) Rice disse que custaria US$ 70 milhões para derrubar o regime iraniano”, ironizou Larijani. “É pouco. Com isso só conseguem dar um chocolate a cada iraniano. Se forem gastar dinheiro, é melhor que dêem um carro para cada iraniano.”

De acordo com Larijani, as potências ocidentais prometeram fornecer combustível para os reatores nucleares iranianos, mas o Irã não pode confiar nelas. “Um país independente tem que ter seu próprio combustível”, salientou. “Dentro de 20 a 25 anos, o petróleo e o gás do Irã terão acabado.”

Segundo ele, o Irã tem muitas reservas de urânio. “Somos signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP).A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) deveria nos dar tecnologia, mas a única coisa que nos manda são inspetores”, queixou-se ele. “Fizemos tudo sozinhos. Nossos cientistas têm 30 anos de idade. Os países poderosos não deixam que os objetivos do TNP sejam alcançados.”

Na semana passada, Larijani ameaçou abandonar a AIEA se o Conselho de Segurança da ONU impuser sanções ao Irã. Ele acrescentou ontem que, se o caso do Irã for levado ao Conselho, o país vai “reduzir a freqüência das visitas dos inspetores da ONU”.

A estudantes que se mostraram preocupados com as conseqüências de um bloqueio internacional contra o Irã, Larijani declarou: “Se você quer um país com tecnologia atômica, tem que sacrificar-se.” Larijani foi à Universidade Sharif, centro de referência em engenharia e ciências exatas, para lembrar a morte do grão-aiatolá Morteza Motahari, um dos ideólogos da Revolução Islâmica. Motahari, de quem Larijani era genro, foi morto a tiros em 1979, por um miliciano contrário ao regime que se instalava. Por isso é considerado um mártir.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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