Embaixador viajou para Bagdá, onde desde 1990 não há um representante do País; abertura será em setembro
BEIRUTE – Ele abriu as embaixadas do Brasil na Zâmbia, em 1982, no Zimbábue, em 1986, na Namíbia, em 1990, e na Autoridade Palestina, em 2004. Embaixador da “linha de frente”, Bernardo de Azevedo Brito embarcou ontem em Cumbica para um novo desafio: reativar a embaixada do Brasil em Bagdá, sem embaixador desde que o Iraque invadiu o Kuwait, em 1990.
Aposentado no ano passado, Brito, de 71 anos, não resistiu ao convite: “Se me tivesse sido oferecido um desses postos super fáceis e graciosos, não aceitaria”, disse o veterano embaixador ao Estado, pelo telefone. “Neste caso, não aceitar seria impossível. Seria prova de desinteresse profissional. Estou muito contente de ir. É um desafio estimulante.”
Quanto ao problema-chave da segurança pessoal, o embaixador não quis entrar em detalhes, mas disse que será montado um esquema especial. Brito, que nunca esteve no Iraque, antecipa que a embaixada pode ter de ser mudada para um prédio próprio e mais seguro. Atualmente, ela fica numa casa alugada, fácil de arrombar, como, aliás, aconteceu no fim da guerra, em 2003.No início, Brito deve ficar indo e voltando entre Bagdá e Amã, onde foi montado o escritório avançado para o Iraque, no qual ele já vinha trabalhando antes de ter a indicação aprovada pelo Senado, no mês passado.
Segundo Brito, que deve apresentar suas credenciais em setembro ao presidente do Iraque, Jalal Talebani, sua atuação em Bagdá terá ênfase nas atividades comerciais. “Queremos comerciar no mundo todo, inclusive no Iraque”, disse o embaixador. “É um país destruído, mas rico, com uma população grande, que pode ser um parceiro importante, como já foi no passado.”
“Acredito que o Brasil pode contribuir em muito para a reconstrução daquele país, sob a forma de contratos os mais diversos”, espera o embaixador, citando como exemplo a construção de estradas e a exploração de petróleo. “As empresas brasileiras são competitivas em muitos setores. Várias tiveram, no passado, um papel importante no desenvolvimento do Iraque. Não há razão para que não voltem a tê-lo.”
Entre os produtos brasileiros que podem ser exportados ao Iraque, estão, segundo o embaixador, os aviões da Embraer, equipamentos de transporte em geral, linhas de transmissão, maquinários agrícolas, equipamentos hospitalares e odontológicos e alimentos em geral, incluindo carnes de diferentes tipos, que já estão sendo vendidas ao país.
Tudo isso, obviamente, depende da estabilização do Iraque. Testemunha da guerra na África Meridional no anos 80 e do fim do apartheid no início dos 90, Brito não é pessimista quanto às chances do Iraque de encontrar uma solução política para o seu conflito. “Se há democracia, basta criar cláusulas para proteger as minorias”, analisa ele. “Tanto pode demorar bastante quanto de repente haver um desenlace.” O importante, acha o governo brasileiro, é estar por perto, quando as chances surgirem.
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