Não há iraquianos cruzando fronteiras com Jordânia, Irã, Turquia e Síria, diz a ONU
AMÃ – Uma parte das famílias que se deslocaram para a zona rural do norte do Iraque, com medo da guerra, está agora voltando para suas casas, nas cidades de Arbil e Sulaymaniyah. Enquanto isso, algumas famílias continuam deixando suas casas em Dohuk, no extremo norte do Iraque. A informação foi dada ontem pelo porta-voz da Coordenação Humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU) no Iraque, David Windhurst.
De acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), não há famílias iraquianas chegando às fronteiras do país com a Jordânia, Irã, Turquia e Síria. “Provavelmente porque eles têm comida suficiente”, explicou o porta-voz do Acnur, Peter Kessler, durante entrevista coletiva ontem de manhã na capital jordaniana dos representantes das agências da ONU que atuam no Iraque, cujos funcionários estrangeiros deixaram o país. “As pessoas também não deixaram suas casas nos primeiros estágios da guerra em 1991”, lembrou Kessler. No fim, havia 500 mil refugiados iraquianos nas fronteiras do país.
O Programa Mundial de Alimentos (WFP) estima que os iraquianos tenham estocada comida suficiente para quatro a seis semanas. Segundo o WFP, 60% da população, ou 16 milhões de pessoas, dependem do programa da ONU “Comida em troca de Petróleo” para sobreviver. O programa foi interrompido por causa da guerra. Mas a ONU está negociando sua retomada, mesmo durante o conflito.
O campo de Ruweished, montado na fronteira da Jordânia com o Iraque para receber uma eventual onda de refugiados, já tem capacidade para abrigar 2 mil pessoas, com 200 tendas. Para hoje está prevista a instalação de água corrente, incluindo duchas. Ainda não há eletricidade. O campo fica no meio do deserto, numa área pedregosa sujeita a fortes ventos e frio.
No momento, ele abriga cerca de 300 pessoas, todas de “terceiros países”, ou seja, nem iraquianos nem jordanianos, que trabalhavam no Iraque. A maioria – 229 – são sudaneses. De acordo com o porta-voz da Organização Internacional de Migração, Chris Lom, esses sudaneses não quiseram voltar para seu país junto com outros 147 compatriotas na sexta-feira, com medo de perseguição pelo governo de Cartum. Mas receberam ontem “garantias” do embaixador sudanês em Amã, e devem regressar hoje. Outros 22 egípcios já seguiram para seu país. Há um pequeno grupo de 13 iraquianos de dupla nacionalidade na fronteira, cujo caso está sendo analisado.
Funcionários locais do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) visitaram, na sexta-feira, quatro orfanatos em Bagdá, que abrigam um total de 800 crianças. Segundo o porta-voz do Unicef, Geoff Keele, as crianças estavam bem alimentadas e limpas, mas muito assustadas com os bombardeios.
Sexta-feira foi o feriado de Naurus nos países muçulmanos, que marca o início da primavera. Especialmente as crianças gostam dessa celebração, que inclui picnics e brincadeiras. Os funcionários lhes levaram flores, comida e lençóis. Quando lhes perguntaram o que elas queriam no seu dia, a maioria respondeu que queria que parassem os bombardeios. Ontem, por causa da intensificação dos ataques aéreos da coalizão, os funcionários da Unicef não puderam voltar aos orfanatos.
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