Estado islâmico degola jornalista americano

Grupo ameaça executar outro jornalista se bombardeios americanos continuarem

ERBIL – O governo dos Estados Unidos confirmou ontem a autenticidade do vídeo em que o jornalista James Foley é degolado por um militante do Estado Islâmico, que ameaça executar outro jornalista americano, Steven Sotloof, se os bombardeios aéreos contra suas posições no Iraque não forem interrompidos. Funcionários americanos descartaram essa possibilidade, e o presidente Barack Obama fez um apelo à comunidade internacional para ajuda-lo a combater o grupo.

“Os Estados Unidos serão vigilantes e incansáveis para fazer o que for necessário para que justiça seja feita”, afirmou Obama, na residência presidencial de descanso em Martha Vineyard. “Hoje o mundo inteiro está chocado com o assassinato brutal de James Foley pelo grupo terrorista Isil (Estado Islâmico no Iraque e no Levante, seu antigo nome antes de declarar um “califado” multinacional). Tem de haver um esforço comum para extrair esse câncer para que não se espalhe.”

O jornal The Washington Post perguntou a um funcionário do governo se os Estados Unidos cogitariam suspender os bombardeios. “A única questão é se fazemos mais”, respondeu. O Comando Central das Forças Armadas informou ter executado ontem 14 bombardeios perto da represa de Mossul, no norte do Iraque, elevando para 84 o número de ataques aéreos desde o início da campanha contra o Estado Islâmico (EI), no dia 8.

No vídeo, depois de decapitar Foley, o homem encapuzado exibe Sotloff, e diz: “A vida deste cidadão americano, Obama, depende de sua próxima decisão”. A morte de Foley e a ameaça contra Sotloff, no entanto, devem resultar em uma pressão maior ainda sobre o presidente para intensificar as ações contra o EI e armar os peshmergas, os soldados curdos. “Precisamos confrontar seriamente essa força, inclusive armando agressivamente aqueles que a enfrentam”, diz uma nota divulgada pelo deputado republicano Edward Royce, depois da declaração feita por Obama.

Foley trabalhava como free lancer (não contratado) para o site GlobalPost, pertencente ao jornal Boston Globe. O repórter do Estado o conheceu em Benghazi, em 2011, durante a guerra civil líbia, antes de ele ser capturado, junto com uma jornalista americana e um espanhol, por soldados leais ao então ditador Muamar Kadafi. Um jornalista sul-africano foi morto na ação. Os três ficaram presos durante 44 dias. Ele foi capturado de novo em 2012, no norte da Síria, e era mantido refém até agora. Sotloff também é free lancer, e trabalha para a revista Time, entre outras publicações. Ele foi capturado em agosto de 2013, também na Síria, onde o EI ocupa o norte e o nordeste.

O vídeo começa com uma declaração de Foley, ajoelhado, com a cabeça raspada e um abrigo laranja, a cor dos uniformes dos presos americanos, em que ele critica os Estados Unidos por bombardear o EI. Ele se dirige a seu irmão, John, da Força Aérea, dizendo que, com os bombardeios, seus colegas pilotos “assinaram seu certificado de óbito”. Foley conclui dizendo que “gostaria de não ser americano”.

Vestido todo de preto, o militante encapuzado diz, em inglês, que seu grupo já não é mais uma “insurgência”, mas um “exército” e um “estado aceito por um grande número de muçulmanos em todo o mundo”. E adverte: “Portanto, qualquer tentativa sua, Obama, de negar aos muçulmanos seus direitos de viver em segurança no califado islâmico  resultará no derramamento de sangue de seu povo”.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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