Exército lança ofensiva para retomar Tikrit

Reduto sunita e terra natal de Saddam, cidade é ocupada pelo EI desde 11 de junho

ERBIL – O Exército iraquiano iniciou ontem uma ampla ofensiva por terra para tentar recuperar a cidade de Tikrit, reduto sunita e terra natal do ex-ditador Saddam Hussein, 150 km ao norte de Bagdá, ocupada pelo Estado Islâmico (EI) desde o dia 11 de junho. Milicianos xiitas lutam ao lado dos soldados iraquianos, enquanto sunitas vinculados ao extinto Partido Baath, de Saddam, e a grupos tribais da região apoiam o EI. As forças leais ao governo encontraram firme resistência dos radicais sunitas.

As tropas e milícias avançavam do sul e do sudoeste em direção a Tikrit, quando foram contidas por minas terrestres e uma barragem de metralhadoras artilhadas, granadas de morteiro e disparos de franco-atiradores. Diferentemente do que acontecera dois dias antes na represa de Mossul, recuperada pelos combatentes curdos, os peshmergas, apoiados por uma unidade de 25 blindados do Exército iraquiano, praticamente sem encontrar resistência dos jihadistas, dessa vez eles se mostraram dispostos a defender sua posição.

O general iraquiano Qassim al-Mussawi declarou que as forças leais ao governo fariam um “avanço lento e gradual” para recuperar Tikrit, capital da provincia de Salaheddin. Não havia até ontem à noite informações sobre baixas.

Faleh al-Issawi, vice-presidente do Conselho Provincial (equivalente à Assembleia Legislativa) de Anbar, disse ontem ao Estado que, na província de maioria sunita, cerca de 100 combatentes do Estado Islâmico foram mortos e 50 veículos destruídos nos últimos três dias por bombardeios aéreos, que ele não especificou se eram americanos ou iraquianos.

Falando pelo telefone, Issawi afirmou que os bombardeios têm sido fora das zonas urbanas, e têm como objetivo cortar as linhas de suprimento. As áreas atingidas foram ao redor da represa Haditha, uma das maiores do país, e perto das cidades de Rawa e Aana. “O Estado Islâmico está perdendo muito, e não está mais tão forte como era antes”, assegurou o deputado.

O EI publicou ontem um vídeo na internet, no qual ameaça atacar os americanos se os bombardeios continuarem. O vídeo mostra um soldado americano aparentemente sendo morto por um franco-atirador e também a foto de um americano sendo decepado, no início da ocupação americana do Iraque, em meados da década passada, em uma das ações executadas por militantes de grupos precursores do Estado Islâmico. “Vamos afogar vocês todos em sangue”, diz uma legenda em inglês.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) anunciou ontem em Genebra o início de uma grande operação por terra, mar e ar para distribuir ajuda humanitária ao meio milhão de pessoas que deixaram suas casas fugindo da ofensiva do Estado Islâmico. A operação começa hoje, com o envio por avião de suprimentos do porto de Ácaba, na Jordânia, para a capital do Curdistão iraquiano, Erbil, e se estende por quatro dias.

De Erbil, os alimentos, água e tendas seguirão em caminhões para o norte do Curdistão, na fronteira com a Turquia e a Síria, onde se concentram os refugiados da minoria yazidi, particularmente perseguidos pelos jihadistas. Já os cristãos vieram em maior número para Erbil.

O repórter do Estado esteve na segunda-feira em Dohuk e em Zakho, onde milhares de yazidis estão vivendo ao relento, em frágeis tendas, em escolas e em prédios em construção, sob um calor que atinge 46˚ C ao meio-dia. A água e comida são doadas por empresários locais, pelo Unicef, pelo Programa Mundial de Alimentos, da ONU, e pela ONG francesa Ação contra a Fome. O Acnur pretende montar oito campos de refugiados para 140 mil pessoas.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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