Três reforços contratados pelo Zakho Futebol Clube se assustam ao saber que estão a 50 km dos terroristas
ZAKHO, Iraque – A temporada ainda nem começou, mas três reforços recém-contratados pelo Zakho Futebol Clube estão ameaçados. Três brasileiros desembarcaram nas últimas semanas na cidade de 250 mil habitantes, pouco antes de a ofensiva do Estado Islâmico abarcar essa região do norte do Iraque, trazendo milhares de refugiados para Zakho, principalmente da minoria yazidi, cuja religião mistura o zoroastranismo e o cristianismo ao Islã, o que incomoda profundamente o Estado Islâmico.
“Procure acalmá-los”, pediu um grande empresário da cidade, que levou o repórter do Estado até o hotel onde estão os jogadores. Mas não deu muito certo. Eles ficaram sabendo pelo repórter que o Estado Islâmico está a apenas 50 km de Zakho. “Sério mesmo?”, reagiram. “Eles não falaram isso pra gente.” Os bombardeios americanos e a cadeia de
montanhas que separa a posição dos jihadistas da cidade tornam muito improvável o avanço do Estado Islâmico em direção a Zakho, mas isso não serviu exatamente de consolo.
O zagueiro Fábio Santos, de 33 anos, que estava no Clube Atlético Linense, no interior paulista, ficou em dúvida sobre se trará a mulher e os dois filhos, de 4 e de 6 anos. Ele já jogou no Líbano, na Síria e no Catar. Estava de malas pontas para o Líbano em julho de 2006, quando estourou a guerra de Israel com o Hezbollah. Fábio adiou para agosto sua estreia no Al-Ansar.
Quando eclodiu a Primavera Árabe na Síria, em março de 2011, ele tinha acabado de encerrar sua temporada no Al-Karame. Ele brinca com o técnico sírio Mohamed Quait, o mesmo do Al-Karame e do Zakho: “Tá de sacanagem. Saí da guerra de lá e começa outra aqui?” O técnico responde: “No Brasil também tem a guerra das máfias”, referindo-se ao crime organizado.
O atacante Flávio Carvalho, de 27 anos, vem do Batatais Futebol Clube, também do interior paulista. Jogou no América de Cali, na Colômbia, mas é a primeira vez que vem “para esses lados”. Também tinha planos de trazer a mulher e o casal de filhos, de 5 e de 1 ano. Mas agora ficou difícil. “Financeiramente é interessante”, disse Flávio. “Os clubes no Brasil ficam meses sem pagar os salários.”
Maurício Vitali Filho, outro atacante, de 26 anos, de Monte Alto, também em São Paulo, jogou antes na Bélgica e na Grécia, e a sua noiva o acompanhou. Mas agora, nem Maurício sabe se vai ficar.
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