Atentados ocorrem no dia em que forças de segurança vão às urnas; Al-Qaeda promete agir para frear ‘hegemonia xiita’
BAGDÁ – Apesar do extraordinário esquema de segurança para garantir a votação antecipada dos militares, policiais e profissionais da saúde, um ataque com foguete e dois atentados a bomba mataram ontem 17 pessoas e deixaram mais de 50 feridos em Bagdá. Foi um prelúdio do que pode acontecer no domingo, quando os eleitores comuns sairão às ruas para votar nos deputados do Parlamento, que por sua vez escolherá o primeiro-ministro e o presidente.
A Al-Qaeda no Iraque prometeu tentar perturbar as eleições, que segundo o grupo radical sunita consolidarão o poder da maioria xiita sobre o país. Os policiais e soldados foram votar ontem para garantir a segurança no dia normal de eleição.
No primeiro ataque, um foguete Katyusha caiu perto de uma seção eleitoral no bairro de Hurriyah, matando sete pessoas. Depois um suicida detonou os explosivos que trazia no corpo perto de uma fila de soldados que esperavam para votar, no bairro de classe média alta de Mansour, matando 6 e ferindo 18. Outro suicida se explodiu na região central de Bagdá perto de uma fila de soldados, matando 4 e deixando 14 feridos.
Apesar dos ataques, os policiais e militares compareceram em massa para votar em Bagdá e noutros pontos do país. Eles vinham a pé ou desciam de ônibus e caminhões antes dos rígidos bloqueios militares que cercam as seções eleitorais, caminhando em grupo. Mesmo fardados, eles eram revistados por policiais antes de entrar nos locais de votação. “O suicida que se explodiu ontem em Baqubah usava uniforme da polícia”, justificou o policial Aziz Hamod, referindo-se a um dos três atentados ocorridos na quarta-feira na cidade a 60 km ao norte de Bagdá, que mataram 33 pessoas.
Tanto os policiais quanto os militares expressam aspirações parecidas com as dos demais eleitores, pedindo mais segurança e a restauração de serviços básicos, como eletricidade e água, que desde a invasão de 2003 continuam precários. Mas há também reivindicações específicas.
“Precisamos trabalhar menos e ter mais tempo com nossas famílias”, disse o sargento Abbas al-Majidi, de 35 anos, depois de votar na Escola Omar al-Mokhtar, na região central de Bagdá. O sargento disse que trabalha 15 dias direto, dormindo no quartel, e só depois pode ir para sua casa em Bagdá, para 5 dias de folga. “Se tivermos mais soldados, poderemos trabalhar menos.” As Forças Armadas iraquianas têm hoje 197 mil homens. Esse número deve aumentar. O contingente americano no Iraque está sendo reduzido de 100 mil para 50 mil homens até agosto, e a missão dos que ficarem será treinar soldados iraquianos.
Al-Majidi não se queixa do salário de 1,3 milhão de dinares iraquianos, o equivalente a US$ 1.106, valor relativamente alto para os padrões iraquianos. Já o policial Ahmed al-Khleifawi, de 48 anos, que ganha 675 mil dinares iraquianos (US$ 574), diz: “Precisamos de bons salários, de melhor treinamento e equipamento. Há policiais que nunca tiveram chance de fazer capacitação.”
Saad Mehdi, de 32 anos, funcionário da prefeitura de Bagdá encarregado de trabalhar na seção eleitoral, disse que se sentia seguro, apesar das ameaças dos grupos radicais contra a realização das eleições. À pergunta sobre se seus vizinhos da periferia sul de Bagdá sabiam que ele trabalhava nas eleições, Mehdi respondeu: “Se você me perguntasse isso dois anos atrás, eu diria que não. Mas hoje em dia, sim. Há dois dias foram enviadas mais tropas para proteger todas as seções eleitorais, e acho que estão seguras.”
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