Partido de Saddam ainda é maior ameaça à paz

Para analistas, integrantes do Baath são mais perigosos do que milícias xiitas e Al-Qaeda

BAGDÁ – A explosão de violência no Iraque depois da invasão americana foi protagonizada por três grupos: membros do Partido Baath do ex-ditador Saddam Hussein, Al-Qaeda e milícias xiitas patrocinadas pelo Irã. A Al-Qaeda perdeu influência, graças à reação de líderes tribais, reunidos nos Conselhos Despertar. As milícias, reprimidas pelo Exército iraquiano, cederam espaço aos seus braços políticos. Os baathistas permanecem como o grande fator de desestabilização do Iraque.

“Os iraquianos devem temer o Baath, não a Al-Qaeda”, diz o cientista político Hamid Fadhil, da Universidade de Bagdá. “Há muitos baathistas infiltrados nos órgãos do Estado. Além disso, eles têm muitas conexões nos países árabes e na mídia.” Para Fadhil, a estabilidade do Iraque depende da reintegração dos baathistas no poder.

“É impossível eliminar a influência do Baath”, concorda Hazim al-Nuaimi, professor de ciência política da Universidade Mustansiriyah. “A ideologia deles está disseminada, e não se pode controlar o pensamento das pessoas.” Nuaimi, de 60 anos, não tem razões para gostar do Baath. Por opor-se a Saddam, ele só pôde ser contratado pela universidade depois da queda do regime em 2003. Fadhil, contratado em 2000, conta que preencheu um questionário afirmando que era filiado ao Baath, mas na verdade nunca assinou a ficha de filiação.

O primeiro decreto de Paul Bremer, o administrador civil americano, depois da deposição de Saddam, em 2003, foi o expurgo dos membros do Partido Baath do governo e das forças de segurança. Isso equivaleu a eliminar, numa canetada, toda a burocracia e o aparato de defesa e manutenção da ordem do país, já que ninguém podia exercer essas funções sem ser filiado ao Baath, que governava o Iraque desde os anos 60.

Os americanos compreenderam o erro, e o governo do presidente Barack Obama defende a reintegração dos baathistas. Mas a chamada “desbaathificação” continua sendo usada como arma política. Uma comissão do Parlamento liderada por deputados xiitas da Aliança Nacional Iraquiana baniu cerca de 500 candidatos por supostamente ter pertencido ao Baath. A medida foi apoiada pelo governo do primeiro-ministro Nuri al-Maliki, também beneficiado com a eliminação dos oponentes.

“O banimento é necessário”, disse ao Estado Saad al-Muttalibi, vice-ministro interino do Diálogo e da Reconciliação e candidato a deputado pela chapa de Maliki. “As feridas causadas pelos baathistas ainda estão sangrando. Eles estão envolvidos, de uma forma ou de outra, em toda a violência em Bagdá. É muito perigoso permitir que atuem na política.”

No Parlamento, Muttalibi culpa os baathistas pela não aprovação de uma nova Lei de Hidrocarbonetos, para atrair investimentos na exploração de petróleo. A lei atual, que impôs a nacionalização do petróleo em 1972, é de autoria do Baath. Por causa dela, o governo só pode firmar com as companhias de petróleo contratos de serviços, remunerando-as pela exploração, e não dividindo os resultados da produção, como prefere o mercado.

A deputada Aliya Jassem, da aliança Al-Iraqiya, que abriga ex-baathistas, nega que eles tenham impedido a aprovação de uma nova lei. “Não somos contra mudar a lei”, disse ela. “Precisamos de uma nova lei para garantir investimentos externos. O que queremos é garantir que os contratos com as multinacionais sejam transparentes, com regras claras, e não firmados debaixo do pano.”

“O Baath governou este pais por mais de 40 anos”, argumentou a deputada. “É impossível não lidar com eles. Não podemos exportar o povo iraquiano. Precisamos separar os ex-baathistas criminosos dos inocentes, e punir todos os criminosos, não só baathistas.”

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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