Partidos deverão formar coalizão

Não há pesquisas confiáveis, mas a previsão é de que nenhum dos blocos consiga maioria para governar sozinho

BAGDÁ – Não há pesquisas de opinião abrangentes nem confiáveis no Iraque, mas tudo leva a crer que nenhum dos blocos que disputam as eleições de hoje alcançará maioria para governar sozinho. O mais provável é que se forme uma coalizão de alianças – internamente já bastante heterogêneas -, seguindo a distribuição sectária do poder que se instalou depois da queda de Saddam Hussein em 2003, e que lembra o arranjo libanês: primeiro-ministro xiita, presidente curdo e presidente do Parlamento sunita.

Uma coalizão possível – embora um tanto paradoxal ideologicamente – é entre o bloco Al-Iraqiya, do ex-primeiro-ministro Ayad Allawi, um xiita secular associado a sunitas também seculares, e a Aliança Nacional Iraquiana (INA), formada por xiitas sectários apoiados pelo Irã. Allawi opõe-se à influência iraniana sobre o Iraque e é acusado de ligações com os Estados Unidos, com as monarquias árabes do Golfo Pérsico e com o Egito. “Não descartamos nenhuma composição”, disse ao Estado a porta-voz da Al-Iraqiya, Maysoon al-Damalouji. “Tudo está em aberto.”

A aliança trabalha com uma pesquisa feita pelo Instituto Nacional Democrata, dos EUA, que segundo Maysoon atribui 29% dos votos à Al-Iraqiya, 16% para a INA e outros 16% para a aliança Estado de Direito, liderada pelo primeiro-ministro Nuri al-Maliki. A deputada Aliya Jassem, da Al-Iraqiya, estima que a aliança elegerá cerca de 100 deputados no novo Parlamento de 325 cadeiras.

Já o candidato a deputado Saad al-Muttalibi, do Partido Dawa, de Maliki, afirma que as pesquisas encomendadas pela legenda indicam 40% dos votos para a Estado de Direito e 13% para a Al-Iraqiya. Mas Muttalibi, vice-ministro do Diálogo e da Reconciliação, admite que os dados se restringem a Bagdá, e o resultado é imprevisível.

Hamid Fadhil, professor de ciência política na Universidade de Bagdá, acha mais provável uma aliança da INA com Maliki do que com Allawi. Os grupos xiitas sectários da INA foram parceiros de Maliki na coalizão de governo. O primeiro-ministro, cujo Partido Dawa também é de origem islâmica xiita, rompeu com a INA no esforço de se tornar um líder nacional, não sectário. Mas a sua nova aliança não atraiu políticos seculares de expressão, nem xiitas nem sunitas.

Em contrapartida, a Al-Iraqiya conta com o vice-presidente sunita Tareq al-Hashemi e o deputado Saleh al-Mutlaq, também sunita, cuja candidatura foi rejeitada pelo Comitê de Transparência e Justiça do Parlamento, por ele ter pertencido ao Partido Baath, de Saddam Hussein. O comitê é liderado por dois integrantes da INA, entre eles Ahmed Chalabi, ex-aliado dos EUA, que mudou de lado e agora recebe apoio do Irã.

Mesmo com todas essas incompatibilidades, não se descartam alianças entre nenhum desses grupos. Além de Allawi e do próprio Maliki, outros nomes citados para o cargo de premiê são os ministros do Petróleo, Hussein al-Shahristani, e do Interior, Jawad Bolani, ambos xiitas seculares.

Shahristani destacou-se pelo aumento da produção de petróleo, de 500 mil barris por dia para 2 milhões (a meta é chegar a 12 milhões nos próximos anos), graças à assinatura de contratos de exploração com multinacionais, apesar das restrições da antiga lei de nacionalização, que só permite contratos de serviços, menos atraentes que os de partilha. O ministro lamentou ao Estado a ausência da Petrobrás nos leilões, mas reconheceu que a estatal brasileira “tem outros interesses”, referindo-se ao pré-sal.

Bolani, engenheiro aeronáutico recém-ingressado na política, é considerado alternativa a Maliki, desgastado pela corrupção e ineficiência do governo.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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