Num vídeo-convite para que os desertores voltassem, o ditador garantiu perdão e ainda 2 t de ouro
O general Hussein Kamel Hassan e seu irmão, coronel Saddam Kamel Hassan, foram atraídos de volta ao Iraque por promessas generosas do presidente Saddam Hussein. Os dois, genros de Saddam Hussein, que estavam exilados na Jordânia desde agosto, depois da fuga espetacular pelo deserto, receberam uma gravação em vídeo do ditador iraquiano em que ele os convidava a voltar e garantia o seu perdão. Além disso, os dois militares e suas mulheres, filhas de Saddam Hussein, receberiam em contas na Suíça um total de UM 300 milhões como recompensa pelo golpe de propaganda que seu retorno propiciaria – ou pelo menos assim dizia o presidente iraquiano. Os presentes envolviam também 2 mil quilos de ouro.
É assim que Fahad al-Tayash, editor do mais importante jornal do mundo árabe, Asharq al-Awsat, explicou, em entrevista ao Estado, a estranha decisão dos oficiais iraquianos de optar pelo que muitos observadores anteciparam como morte certa As duas famílias saíram do fraque com US$ 20 milhões e já haviam gasto metade disso na Jordânia, segundo as fontes do jornal. Os dois oficiais, acossados por Uday, o filho mais velho de Saddam, viram-se completamente isolados na Jordânia. Os grupos de oposição no exterior os hostilizaram. A desproteção e a perspectiva da falta de dinheiro precipitaram a aceitação da oferta fatídica.
Editado em Londres e distribuído por todos os países árabes, todos os dias o Asharq al-Awsat tem publicado noticias reproduzidas no mundo inteiro pelas agências internacionais sobre o caso da execução dos oficiais e de seus familiares. Em sua edição de hoje, o jornal afirma que a tribo dos Al-Majeed, à qual pertence a família Hassan, está sendo dizimada por membros do clã Al-Takrit, ao qual pertence Saddam Hussein. Entre as vítimas estão três irmas dos oficiais e cinco filhos. Uma dessas irmãs é mulher de Kamal Mustafah, comandante da Guarda Presidencial, a unidade de elite do Exército iraquiano.
Com relação à execução dos dois oficiais, existem duas versões. Uma, de que Saddam Hussein teria ido pessoalmente interrogar os desertores, para em seguida executá-los. A outra é de que membros do clã do ditador foram os executores. À pergunta sobre se Saddam faria o serviço com as próprias mãos, o editor responde com outra pergunta: “Ele já não matou um ministro durante uma reunião do gabinete?”
O governo iraquiano anunciou ontem que Watban Hussein, meio-irmão de Saddam, está sob prisão domiciliar por ter planejado fugir do país. Fontes do jornal Asharq al-Awsat afirmam que Watban já estava detido havia algum tempo. Outro meio-irmão de Saddam, Busaran, está exilado em Genebra.
O editor Al-Tayash, doutor em Comunicação pela Universidade de Riad, explica a saga dos meio-irmãos de Saddam assim como os genros mortos, eles concorrem com o filho mais velho do presidente iraquiano, o poderoso Uday, e por isso estão sendo afastados do círculo íntimo do poder.
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