Sunitas abandonam negociações sobre coalizão

Decisão foi provocada por massacre em mesquita atribuído a milícias xiitas

ERBIL – Dois dos mais importantes políticos sunitas abandonaram ontem as negociações para a formação de um novo governo no Iraque, depois que um massacre em uma mesquita atribuído a milícias xiitas deixou 68 mortos na província de Diyala, ao norte de Bagdá. O massacre, por sua vez, pareceu ter sido uma vingança pela explosão de duas bombas na casa do líder de uma milícia xiita. Ele sobreviveu, mas três de seus homens foram mortos.

Saleh Mutlaq, o vice-primeiro-ministro sunita (há também um xiita e um curdo), e Salim al-Jiburi, presidente do Parlamento, retiraram-se das negociações até que sejam anunciados os resultados de uma investigação sobre o massacre. Nomeado no dia 11, o primeiro-ministro interino, Haidar al-Abadi, tem um mês para formar governo. Ele substituiu Nuri al-Maliki, do mesmo Partido do Chamado Islâmico, que governou por dois mandatos de quatro anos, e saiu sob pressão dos Estados Unidos e de políticos iraquianos, que consideram que ele favoreceu a maioria xiita e prejudicou a minoria sunita.

Abadi tem o desafio de formar um governo de união nacional em meio a uma convulsão causada por uma onda de violência sectária comparável à de meados da década passada, quando ela chegou ao auge, e também à ocupação de uma faixa extensa do norte do Iraque pelo Estado Islâmico (EI). O avanço dos jihadistas, que são sunitas, acirrou as tensões: os xiitas acusam os sunitas de apoiar o grupo, o que em parte de fato aconteceu, por causa do descontentamento dos sunitas com o regime.

A deputada Nahida al-Dayani, da província de Diyala, e originária do vilarejo onde ocorreu o massacre, disse à agência Reuters que cerca de 150 fiéis rezavam na mesquita Imã Wais quando os milicianos chegaram, abrindo fogo com metralhadoras. “Algumas mulheres entraram correndo para ver o que tinha acontecido com seus parentes e também foram mortas.” Segundo um major do Exército, os homens chegaram em duas caminhonetes.

Depois do massacre dos sunitas, líderes xiitas, temendo mais uma represália, alertaram para a possibilidade de um ataque do Estado Islâmico contra a cidade de Amerli, habitada por xiitas de etnia turcomana, 160 km ao norte de Bagdá. Segundo moradores e um funcionário público local, ouvidos pela Reuters, a cidade de 17 mil habitantes está cercada pelo EI, que colocou minas na estrada e franco-atiradores na periferia, para impedir os moradores de fugir. Eles disseram que estava acabando a comida e munição para enfrentar os jihadistas.

Além do EI, é provável que outros grupos sunitas também busquem vingança pelo massacre na mesquita. Salman al-Jiburi, um líder tribal sunita, afirmou que os sunitas estavam prontos para dar o troco: “As tribos sunitas foram alertadas para vingar as mortes”.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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