Sunitas mandam recado à Al-Qaeda com participação massiva às urnas

Se confirmados, os altos índices de comparecimento nas províncias de maioria sunita não só significam um claro revés para a Al-Qaeda

BAGDÁ – Significam também ameaçam seriamente as chances de reeleição do primeiro-ministro Nuri al-MalikiAo mesmo tempo em que favorecem o seu rival secular, o ex-primeiro-ministro Ayad Allawi. O desafio à Al-Qaeda é evidente: ao anunciar o “toque de recolher” para o dia da eleição, o grupo sunita enfatizou que ele se aplicava em especial aos sunitas, que seriam punidos se participassem de uma eleição que consagraria o domínio da maioria xiita sobre o Iraque.

Traumatizados com as consequências do boicote de dezembro de 2005, que em vez de deslegitimar as eleições reforçaram de maneira desproporcional a representação xiita, os sunitas desta vez parecem ter preferido o risco da punição da Al-Qaeda ao ostracismo político.

Levados pelo pragmatismo, os sunitas tendiam a despejar seus votos na aliança Al-Iraqiya, liderada pelo xiita Allawi. A aliança é formada por 11 partidos xiitas, 10 sunitas e 1 turcomano. Todos de orientação secular, ou seja, defensores de um Iraque no qual essas distinções sectárias não sejam utilizadas politicamente.

Maliki, de sua parte, sai perdendo porque, embora tenha tentado, não conseguiu, nessa campanha, elevar-se à condição de líder nacional, acima das divisões sectárias. A coalizão Estado de Direito, liderada pelo seu partido Dawa, de origem islâmica xiita, não atraiu líderes seculares sunitas nem xiitas de peso, e gravita em torno de seu próprio nome.

Já a outra grande frente sectária xiita, a Aliança Nacional Iraquiana, está composta de grupos heterogêneos demais para se manter forte e coesa depois das eleições. Antes da votação, nenhuma aliança, nem mesmo a Al-Iraqiya, esperava obter maioria absoluta no Parlamento. Isso significa que às eleições se seguirão negociações para um governo de coalizão.

Esse será um processo penoso e possivelmente desestabilizador. O vácuo de poder deixado pela transição, sobretudo se o primeiro-ministro sair enfraquecido das urnas, pode resultar num recrudescimento da violência sectária, como aconteceu em 2006, quando o desempenho insatisfatório do primeiro-ministro Ibrahim al-Jaafari levou a um desgaste de meses, até que ele fosse substituído por Maliki.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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