Para quem chega pela primeira vez a Bagdá, talvez a impressão não seja das melhores. Cerca de metade dos prédios destruídos na guerra continua como estava.
BAGDÁ – Centenas de postos de controle do Exército e da polícia tornam o trânsito um inferno, e prolongam para uma hora ou duas um trajeto que, pela distância, poderia durar 15 minutos. A eletricidade só funciona algumas horas por dia – e, o que é pior, sem previsão de a que horas chega nem a que horas vai embora. A água nas torneiras é suja. A maior parte das linhas de telefonia fixa não foi restaurada. Os celulares funcionam precariamente.
De noite, o temor de seqüestros e atentados deixa as ruas praticamente desertas. Muitas lojas, restaurantes e bares fechados durante a invasão de 2003 nunca mais reabriram. No verão, os moradores de Bagdá não têm mais coragem de deitar-se nas lajes que cobrem suas casas, para bater papo, tomar chá, cantar e declamar poemas, como faziam antigamente, com medo de serem atingidos por um disparo ou estilhaço de bomba. Bagdá perdeu o brilho de metrópole cultural e comercial pulsante, que tinha até os anos 80.
Mas, para quem esteve aqui na época da guerra de 2003, ou mesmo nas eleições de 2005, a cidade progrediu de maneira notável. Pelo menos durante o dia, há uma grande movimentação de gente e de carros nas ruas; as feiras e mercados atraem muitos consumidores, e muitas lojas reabriram. Há crianças nas ruas, brincando ou indo para a escola.
Os novos contratos de exploração de petróleo firmados pelo governo iraquiano injetam dinheiro na economia, e automóveis caros e casas elegantes são sinais de alguma prosperidade. Os militares americanos estão muito menos visíveis, dando lugar a soldados e policiais iraquianos, recém-treinados, com uniformes e equipamentos novos.
A uma semana das eleições parlamentares, que resultarão na nomeação do primeiro-ministro e do presidente, pôsteres com fotos de candidatos, incluindo algumas mulheres, cobrem os muros de Bagdá, dando-lhe uma feição de normalidade. Mas a presença maciça de militares iraquianos nas ruas, com seus jipes Humvee e seus fuzis Kalashnikov e M-4, assim como os dirigíveis brancos no céu, usados pelos americanos para vigiar os movimentos dos inimigos, servem para lembrar que Bagdá ainda está muito longe de ser uma cidade como outra qualquer.
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