Administração palestina afirma que só pode realizar eleição direta se tropas israelenses voltarem imediatamente às posições de 2000
JERUSALÉM – Se Israel não recuar imediatamente suas tropas para as posições anteriores a setembro de 2000, não será possível eleger um sucessor para Yasser Arafat pelo voto direto. A advertência foi feita ontem pelo vice-ministro da Informação da Autoridade Palestina, Ahmed Sobeh. “Não podemos ter uma campanha eleitoral razoavelmente livre se os candidatos não puderem se movimentar dentro dos territórios palestinos”, disse Sobeh ao Estado, referindo-se aos bloqueios militares israelenses erguidos com o reinício da intifada, o levante palestino na Cisjordânia e Faixa de Gaza.
“As palavras de ontem (sexta-feira) de George W. Bush e Tony Blair precisam se traduzir em fatos, e isso significa dar uma ordem a Ariel Sharon (primeiro-ministro israelense) para que retire suas tropas”, enfatizou o vice-ministro palestino, lembrando a entrevista coletiva conjunta do presidente americano e do primeiro-ministro britânico, na qual eles declararam que Israel e a comunidade internacional deveriam apoiar a realização de eleições nos territórios palestinos.
Segundo Sobeh, Jerusalém também tem de entrar nesse arranjo, como ocorreu em 20 de janeiro de 1996, quando Arafat e o atual Parlamento palestino foram eleitos na única votação direta realizada pelos palestinos. “Se as tropas israelenses não se retirarem imediatamente, não haverá tempo para realizar as eleições.” Pela Constituição palestina, o presidente do Parlamento, Rawhi Fattouh, não pode “prorrogar por um só dia” a presidência interina da Autoridade Palestina (AP), que ele assumiu na quinta-feira, horas depois da morte de Arfafat. Se não houver eleição direta, o atual Parlamento escolherá o novo presidente da AP.
Arafat e o Parlamento foram eleitos em 1996 para um mandato de quatro anos. Em 2000, no entanto, as eleições foram postergadas pela AP, argumentando que os palestinos estavam no meio das negociações de paz com Israel sobre o status final dos territórios ocupados. A partir de setembro de 2000, o motivo passou a ser a ocupação e cerco israelense das áreas sob autonomia palestina, em reação ao início da intifada. Em setembro, no entanto, Arafat tinha iniciado os preparativos para realizar uma eleição, interrompidos por sua doença, em outubro.
O candidato natural da Fatah, a principal facção palestina, criada por Arafat em 1958, é Mahmud Abbas, eleito na quinta-feira presidente da Organização de Libertação da Palestina. De acordo com Sobeh, o fato de Faruk Kadumi, líder radical exilado em Túnis e contrário ao processo de paz, ter assumido a direção da Fatah não significa “de jeito nenhum” que ele disputará a eleição em nome da facção. “Kadumi só assumiu a direção da Fatah porque era o secretário-geral e o próximo na linha de sucessão.”
Mahmud Abbas, 69 anos, conhecido pelo nome de guerra Abu Mazen, é considerado o arquiteto dos acordos de paz que levaram ao estabelecimento da Autoridade Palestina, em 1994. Pertencente à geração de Arafat, e sempre atuando nos bastidores, ele não goza de muito carisma. Pesquisas de opinião mostraram que o líder mais popular depois de Arafat é Marwan Barghuti, preso por Israel em 2002 e condenado a cinco penas de 99 anos, por liderar a intifada. Uma fonte próxima a Barghuti, citada pela Associated Press, disse ontem que ele decidiu concorrer à eleição.
Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.