Analista acredita que líder interino vencerá eleição de março e levará adiante estratégia de desocupação parcial
JERUSALÉM – Dois anos e meio são uma eternidade na política israelense, mas, se as coisas seguirem o atual curso, o mais provável é que Israel saia das eleições parlamentares de 28 de março com um governo chefiado pelo atual primeiro-ministro interino, Ehud Olmert, do Kadima, o partido fundado por Ariel Sharon em novembro. Nesse quadro, podem-se esperar novas concessões territoriais aos palestinos, na Cisjordânia, seguindo o plano de “desengajamento” traçado por Sharon, que já retirou, em agosto, os soldados e colonos da Faixa de Gaza.
O cenário é desenhado pelo cientista político Itzhak Galnoor, de 65 anos. Nascido em São Paulo, de onde veio com oito anos, Galnoor é professor da Universidade Hebraica, em Jerusalém, e publicou, entre outros livros, No, Mr. Commissioner (2003), The Partition of Palestine: Decision Crossroads in the Zionist Movement (1995) e Steering the Polity: Communication and Politics in Israel (1982).
Com Ariel Sharon presumivelmente fora de cena, o que o senhor acha que vai acontecer em 28 de março?
É cedo para dizer. Dois meses e meio em Israel são como dois anos e meio noutros países. Com base no que vemos até agora, vamos ter um sistema de disputa de três partidos, o que nunca tivemos antes. Tivemos um partido dominante (o Trabalhista) por muitos anos. Depois, dois grandes partidos (Trabalhista e Likud) por muitos anos. Da última vez, tivemos o Likud, de Sharon, como o partido maior. Antes da doença de Sharon, parecia que ia haver um grande partido (o Kadima) e uma disputa entre os trabalhistas e o Likud pelo segundo lugar. Agora, eu não descartaria a possibilidade de esses três partidos competirem, no máximo, por algo como 80 das 120 cadeiras na Knesset. Claro que não sabemos como será a distribuição. Antes da doença dele, a divisão era 40, 20 e 20, em números redondos. Agora, é impossível dizer.
Costuma-se dizer que Olmert não tem o carisma de Sharon, mas o senhor não acha que o Kadima pode explorar a simpatia despertada em todo o país pelo doença dele?
Certamente. É por isso que não estou dizendo que o Kadima vai desaparecer, como dizem alguns. Por outro lado, não acho que o Kadima terá tantos votos quantos poderia ter tido com Sharon. Mas você tem razão. Olmert é um político experimentado e bastante conhecido e tenho certeza de que ele conseguirá angariar grande parte do apoio a Sharon – não todo -, e também alguma simpatia por causa da sua saída de cena.
Se o Kadima vencer as eleições, quem seria o seu parceiro natural para uma coalizão na Knesset (Parlamento)?
O Partido Trabalhista. Seria mais fácil para eles criar uma coalizão do centro para a esquerda. É provavelmente o que Sharon faria. O Kadima e os trabalhistas somariam uns 60 votos, e talvez o Meretz (partido secular de esquerda) ou o Shinui (secular de centro) participem, para compor 65 a 70 cadeiras.
Isso ajudaria a diminuir o unilateralismo do Kadima em relação aos palestinos e o estimularia a lhes fazer concessões?
Paradoxalmente, no que diz respeito às relações com os palestinos, o fato de Sharon não estar lá tornará as coisas mais claras. Sharon não dizia as coisas muito claramente. Ele dizia: ‘Votem em mim e confiem em mim.’ E as pessoas realmente confiavam nele. Agora, Olmert teria de deixar claro o que exatamente ele vai fazer em relação aos palestinos, porque não pode dizer simplesmente: ‘Confiem em mim.’ Isto, num certo sentido, é melhor para a democracia israelense. Haverá uma campanha mais clara.
O senhor acha que Olmert seguiria adiante na retirada da Cisjordânia?
Sem dúvida. Tanto Sharon quanto Olmert estão seguindo a opinião pública, que se moveu, nos últimos cinco anos, para a esquerda, em sua disposição de fazer concessões aos árabes. O desengajamento não era o plano inicial de Sharon. Mas ele entendeu muito bem o que estava acontecendo com a opinião pública. Olmert chegou a essa conclusão antes ainda de Sharon. Ele disse publicamente que o ‘Grande Israel’ não era mais possível. Talvez ele entenda melhor o pós-desengajamento (de Gaza) do que o próprio Sharon, e esteja mais preparado para fazer concessões na Cisjordânia.
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