Para OLP, EUA perderão guerra política no Golfo

Organização de Libertação da Palestina nunca esteve tão unida como agora, diz diretor de Informação

Os Estados Unidos podem obter vitória militar na guerra contra o Iraque, mas perderão politicamente. A opinião é de Jamil Hilal, diretor de Informação da Organização de Libertação da Palestina (OLP). Em entrevista ao Estado, de Túnis (Tunísia), sede da organização, Hilal diz que os EUA atraíram para si a hostilidade do povo árabe e muçulmano.

Do mesmo modo, segundo ele, o poderio militar e tecnológico não tem sido suficiente para que Israel imponha o controle sobre os territórios ocupados. O fato de Israel ter mantido desde o início do conflito no Golfo um rigoroso toque de recolher sobre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza é, para Hilal, a prova de que os palestinos já abriram o segundo front da guerra.

Estado – Quais são as conseqüências de uma eventual derrota do Iraque na guerra para a OLP, que apóia Suddam Hussein?

Jamil Hilal – O objetivo da aliança liderada pelos EUA não é a liberação do Kuwait nem a implementação da legitimidade internacional, mas a destruição da capacidade militar, econômica e tecnológica do Iraque. Trata-se de um passo para impor a ordem política e militar mais adequada aos interesses dos EUA. A OLP foi desde o início contrária a essa guerra injusta. Ela exigiu e continua a exigir a implementação de todas as resoluções da ONU, inclusive a que prevê a retirada de Israel dos territórios ocupados à força há mais de 23 anos.

Estado – Quais os resultados esperados pela OLP?

Hilal – Seja qual for o resultado militar da guerra, a longo prazo o efeito político não será o esperado pelos EUA. Pelo que está fazendo com o Iraque e por seu apoio cego à ocupação e às agressões israelenses, os EUA atraíram para si a hostilidade do povo árabe e muçulmano e de grande parte do Terceiro Mundo. Os EUA podem ganhar a batalha militar, mas perderão a guerra politicamente.

Estado – A posição adotada pela OLP no conflito do Golto provocou divisões internas?

Hilal – Não é exagero afirmar que a OLP, nos últimos anos, nunca esteve tão unida como agora. Isto é verdade tanto em termos das posições tomadas pelas diversas facções no interior da organização quanto da opinião pública palestina nos territórios ocupados e no resto do mundo.

Estado – Há duas semanas, a imprensa noticiou um confronto entre grupos guerrilheiros da OLP no sul do Líbano, com vários mortos, causado por discordâncias quanto ao apoio da organização ao Iraque.

Hilal – Esses incidentes não tiveram nada a ver com a posição da OLP na guerra do Golfo. Eles foram causados por problemas administrativos que já foram superados.

Estado – E quanto ao assassinato há dois meses de Abu Iyad (o “número 2” da OLP), atribuído à sua resistência em apoiar o Iraque?

Hilal – A informação de que Saddam Hussein mandou matar Abu Iyad não tem o menor fundamento. O assassino está sendo interrogado pelas autoridades tunisianas, e temos informações de que ele agiu a mando do Mossad (o serviço secreto israelense).

Estado – A guerra favoreceu Israel, dando-lhe argumentos para que não negocie com a OLP?

Hilal – Com ou sem guerra, não há justificativa para não negociar com a OLP, que representa o povo palestino. E a intifada (levante nos territórios ocupados) é uma prova disso. A guerra no Golfo mostrou que a questão palestina está no centro dos problemas da região. Mostrou também que mesmo com tecnologia moderna e armas de destruição em massa, a segurança não pode ser alcançada pela força, mas só por meio de um acordo político.

Estado – A OLP pretende abrir outro front da guerra nos territórios ocupados?

Hilal – O simples fato de Israel ter imposto com mão-de-ferro um toque de recolher na Cisjordânia e Faixa de Gaza desde o início da guerra, deixando os palestinos com fome, sem trabalho e informações significa que o governo israelense considera a intifada um front na atual agressão contra o Iraque.

Estado – A OLP concorda com o plano do governo libanês de, com apoio da síria – inimiga do Iraque – impor o controle ao Sul do Libano?

Hilal – A OLP solicitou discussões formais com o governo libanês sobre a situação da comunidade palestina no Líbano. Naturalmente aceitamos a soberania do governo sobre todo seu territorio. Mas estamos preocupados com a segurança dos palestinos diante dos ataques israelenses. Por isso, queremos que seja reconhecido o nosso direito de autodefesa, inclusive para participar da luta contra a ocupação israelense da chamada “zona de segurança” no Sul do Líbano.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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