Imãs desafiam a proibição de falar de política e qualificam o país de ‘doença’
AMÃ – Na primeira sexta-feira – o dia sagrado muçulmano – depois do início dos ataques ao Iraque, os imãs das mesquitas de Amã desafiaram a ordem dada pelo rei Abdullah II de não fazer declarações políticas sobre a guerra em suas pregações.
Dos bairros de classe alta até as áreas pobres habitadas pela maioria palestina em Amã, os guias espirituais transmitiram mensagens semelhantes, de repúdio aos americanos, que eles associam aos israelenses, e de apoio ao povo iraquiano e, em alguns casos, a Saddam Hussein. Mensagens que ecoaram pelas mesquitas ao redor do mundo árabe, mostraram os telejornais das emissoras da região.
“O que podemos fazer pelos povos do Iraque e da Palestina?”, perguntou o imã da Mesquita Abu Nisheish, no bairro palestino de Al-Wihdat, em Amã. “Temos de rezar por eles todos os dias e para que a América seja derrotada.” O imã fez uma analogia com os primeiros tempos do Islã, em que a religião era atacada por árabes não muçulmanos. “É a mesma situação de hoje em dia.” Segundo ele, deve-se “rezar para que os americanos e britânicos enfrentem coisas piores do que as que enfrentamos atualmente”.
O imã contou que no dia 11 de setembro de 2001, em Meca, a cidade sagrada na Arábia Saudita, um xeque do qual emanava uma luz rezou em voz alta para que Alá infligisse dor aos americanos. Duas horas depois, segundo o imã, começaram os ataques em Nova York. “Rezo para que o mesmo aconteça com a América agora”, inflamou-se o imã. “A América é como uma doença. Rezo para que ela saia de nós.” A voz do imã ganhou um tom fervoroso: “Alá, espalhe-os, destrua seus corações, destrua suas armas, torne suas mulheres viúvas.”
Na Mesquita Husseini, no centro de Amã, os fiéis saíram da pregação dispostos a fazer uma manifestação, mas a polícia os dispersou com cassetetes. Na Jordânia, é preciso autorização prévia do governo para realizar manifestações.
Protestos mais silenciosos começaram ontem à noite em Amã: atendendo a mensagens recebidas em seus celulares, muitos jordanianos acenderam todas as luzes de suas casas, em sinal de vigília pelos iraquianos.
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