Amorim diz que participação do País nas forças internacionais para o Líbano ‘não está sendo considerada’
BEIRUTE – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem em Beirute que uma participação do Brasil na força de paz em formação para o Líbano “não está sendo considerada agora”. Viajando num Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira, Amorim trouxe 9 toneladas de ajuda humanitária para o Líbano, das quais 2,7 em medicamentos doados pelo governo e o restante, mantimentos arrecadados pela comunidade de origem libanesa no Brasil.
O chanceler brasileiro foi recebido na Base Aérea do Aeroporto Rafic Hariri pelo seu colega libanês, Fawzi Salloukh. De origem xiita e um dos três ministros do Hezbollah no gabinete libanês, Salloukh fez questão de mostrar a destruição causada pelos bombardeios israelense no bairro de Haret Hreik, no sul de Beirute, onde o partido e milícia tinha o seu quartel-general. Amorim ficou comovido de ver bandeiras brasileiras e camisas da seleção no meio dos escombros, sinal do apreço local pelo futebol brasileiro, mas também da presença de brasileiros de origem libanesa.
O chanceler se reuniu separadamente com o presidente do Parlamento, o xiita Nabih Berri, com o primeiro-ministro, o sunita Fuad Siniora, e com o presidente da República, o cristão Émile Lahoud. Ouviu deles que o Líbano está agradecido com o apoio – tanto político quanto humanitário – dado pelo Brasil, e que eles têm consciência de que a trégua em vigor desde segunda-feira é frágil, podendo ser rompida por alguma provocação, ainda que involuntária.
“Uma coisa é o cessar-fogo, que naturalmente é importante, mas é preciso também restabelecer o diálogo”, disse Amorim, em entrevista, antes de embarcar de volta. “O Brasil tem 8 milhões de descendentes de libaneses e 2 milhões de sírios, mas também tem uma comunidade judaica muito importante. Mantemos e queremos manter boas relações com Israel. E desejamos quem sabe persuadi-los também a retomar um processo de diálogo porque é nisso que reside esperança.”
O embaixador extraordinário para o Oriente Médio, Afonso Celso Ouro Preto, que veio com Amorim, visita hoje integrantes do governo de Israel e da Autoridade Palestina.
O Estado perguntou a Amorim se o governo brasileiro não se desqualificou como mediador, ao criticar Israel. “O Brasil não é crítico de Israel, mas de certas ações, como também criticamos, por exemplo, ações do Hezbollah quando seqüestrou (os soldados israelenses), explicou Amorim. “Criticamos as ações de Israel, sobretudo pela desproporcionalidade. Não podemos deixar de condenar, e de maneira até mais veemente, porque é muito mais chocante quando você vê 30 crianças mortas num bombardeio.”
Em todo caso, “o Brasil não tem nenhuma expectativa de ser ‘o’ mediador numa crise dessa natureza”, disse o chanceler. “Se desejarem uma mensagem de paz, de diálogo, estaremos presentes. Se não houver esse desejo, não podemos fazer nada.”
A trégua continuou sendo amplamente obedecida ontem, tanto por Israel quanto pelo Hezbollah. Numa grande marcha para o sul, milhares de libaneses continuaram ontem voltando para suas casas – ou para aquilo a que elas se reduziram. Ao mesmo tempo, tanques e soldados israelenses também rumavam de volta para casa. Entretanto, tropas israelenses ainda mantêm sua presença no Sul do Líbano, aguardando a chegada das forças da ONU e do Exército libanês – que convocou ontem reservistas e deve se deslocar para a região até o fim da semana.
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