Crise na Síria ameaça tenso equilíbrio regional

Protestos contra regime Assad ocorrem enquanto Hezbollah, aliado de Damasco, negocia novo governo no Líbano; Israel teme instabilidade

BEIRUTE – A instalabilidade na Síria tem repercussões avassaladoras por toda a região. Além de seu próprio peso regional, de sua disputa territorial com Israel e de sua histórica influência direta sobre o Líbano, a Síria é também a ponta de lança do Irã, que utiliza seu território para fazer chegar armas e dinheiro ao grupo xiita libanês Hezbollah.

Responsável pela última guerra israelense no Líbano, em 2006, o Hezbollah é hoje o mais importante ator político no cenário libanês. Essa força não se explica só pelo apoio maciço do eleitorado xiita, que elege 27 deputados no Parlamento de 128; os cristãos, 64; os sunitas, outros 27; os drusos, 8 e os alauítas, 2. Mas por ser a única organização que ainda detém armas pesadas em seu poder, depois que as demais milícias se incorporaram ao Exército libanês – e lá mantêm praticamente intactas suas lealdades sectárias, é verdade.

A controvérsia em torno desse arsenal é um dos motivos pelos quais o primeiro-ministro Nejib Miqati, designado há três meses, não consegue formar gabinete. O Hezbollah exige garantia formal de que o novo goveno não exigirá que o grupo guerrilheiro entregue suas armas. Um segundo motivo, vinculado a esse, é a insistência do general Michel Aoun, cristão maronita aliado do Hezbollah e da Síria, de indicar o ministro do Interior.

Os sunitas liderados pelo primeiro-ministro em exercício Saad Hariri e parte dos cristãos resistem a essas duas condições. O regime sírio e o Hezbollah são acusados de estar por trás da morte do pai de Hariri, Rafic, também ex-primeiro-ministro, num atentado a bomba em 2005. O atentado desencadeou a chamada Revolução dos Cedros, levando à retirada das tropas sírias, estacionadas no Líbano havia 29 anos.

A influência do Hezbollah explica em grande parte a oposição do Líbano, único membro árabe do Conselho de Segurança atualmente, contra a resolução, não aprovada, que condenava o uso da força pelo governo sírio contra os manifestantes. Uma eventual queda de Bashar Assad poderia retirar parte do peso militar do Hezbollah, reequilibrando as forças políticas no Líbano de acordo com suas reais bases eleitorais.

Para Israel, seu outro vizinho, que desde 1967 ocupa as suas Colinas do Golan, as consequências são mais ambivalentes. Sob a dinastia Assad, a Síria tem sido um inimigo estável. É difícil prever o que a democracia traria consigo na Síria.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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