Tanques entram em Marjayoun, a cidade mais próxima de Beirute já ocupada pelas tropas israelenses
BEIRUTE – Os israelenses começaram ontem mesmo a pôr em prática a ampliação da ofensiva no Líbano, aprovada na quarta-feira pelo gabinete. Panfletos foram despejados sobre Beirute, advertindo os moradores dos bairros xiitas do sul da cidade a deixarem suas casas. Um navio de guerra israelense disparou dois mísseis contra um farol de navegação desativado, convertido em torre de transmissão e recepção, usada pelo Exército e pela polícia libanesa. E tanques de Israel entraram em Marjeyoun, no Sul do Líbano, ocupando a área e detendo 350 policiais. Pelo menos um soldado israelense morreu e outro ficou ferido.
Dirigidos aos “cidadãos de Beirute”, os panfletos mencionam o pronunciamento à nação feito na véspera pelo líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah: “Por causa dos foguetes que a gangue terrorista do Hezbollah ainda está lançando, e dos discursos que o líder dessa gangue ainda está fazendo, jogando com o futuro do Líbano, o Exército israelense pretende ampliar suas operações em Beirute.” Enumerando os bairros xiitas de Haye al-Sellum, Bourj al-Barajeh e Cheiah, a mensagem recomenda: “Para sua segurança, você tem de se retirar imediatamente.”
Os panfletos caíram por volta de 14h. Às 18h, a polícia anunciou pelos meios de comunicação que quem quisesse deixar o sul da cidade deveria concentrar-se num cruzamento próximo a um quartel policial. Um capitão da polícia disse ao Estado que estava prevista a saída de 40 ônibus na noite de ontem e que, somando-se as famílias que iam em seus carros, deveriam totalizar 2 mil pessoas. Conforme iam enchendo, no início da noite, os ônibus já iam saindo. Seu destino era a cidade de Trípoli, 40 quilômetros ao norte, onde a polícia organizaria o alojamento em escolas e centros comunitários.
As cenas no embarque eram tocantes, com famílias com bebês de colo, carregando o que conseguiram tirar de suas casas, e aparência desolada e atordoada. “Não faço idéia de para onde vou”, disse Jamal Samur, ao lado de seu carro abarrotado de pertences, da mulher e do casal de filhos Nadder, de 11 anos, e Nur, de 7. Sua loja foi destruída por um míssil israelense, mas a casa ainda está intacta. “Não sabemos o que encontraremos quando voltarmos.”
O ataque contra a torre, no bairro de classe alta sunita de Koraitem, no oeste de Beirute, foi uma surpresa – a não ser pelas atividades aparentemente desenvolvidas ali. “Aquela torre estava cheia de equipamentos de recepção e transmissão”, disse ao Estado um oficial do Exército. À pergunta sobre quem os estava utilizando, ele respondeu: “No Líbano, isso nunca se sabe.”
Mas o bairro em si era considerado dos mais seguros. Em princípio, Israel não gostaria de molestar sua abastada população sunita (a duas quadras fica a casa do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, por exemplo), assim como a cristã. Um policial e uma moradora ficaram feridos. “Nunca pensei que fossem atacar aqui”, disse Yasmine Araa, de 17 anos, cujo prédio dá de frente para a torre, e que viu quando os dois mísseis a atingiram. “Se não batessem na torre, eles cairiam aqui.”
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