Líder do Hezbollah rejeita guerra civil e acusa governo

Em discurso para uma multidão ensandecida, Nasrallah diz não abrir mão de poder de veto

BEIRUTE – O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, reiterou ontem que não vai recuar de sua exigência de poder de veto no gabinete, mas garantiu que não quer conduzir o Líbano a uma guerra civil, na qual “todos perderiam”. Num discurso de mais de uma hora, em que ele apareceu falando ao vivo, em telões, para dezenas de milhares de pessoas, Nasrallah acusou membros do governo de terem pedido aos Estados Unidos e a Israel para lançarem a guerra de julho, de modo a liquidar com o Hezbollah e com ele, pessoalmente.

Sob uma noite fria, falando a uma multidão ensandecida por rever o seu líder, que não aparecia nos telões em frente ao palácio do governo desde a manifestação de 800 mil pessoas na sexta-feira, Nasrallah disse que quer negociar. Mas advertiu que, se o governo não conceder um terço mais um dos ministérios, que dão poder de veto no gabinete, a atual oposição formará um novo governo – sem explicar de que maneira.

Nasrallah rejeitou enfaticamente a idéia de que seu movimento opõe xiitas e sunitas. “Quem diz isso é um traidor.” Segundo ele, os assassinos do xiita Ahmed Mahmud, de 20 anos, morto no sábado quando passava por um bairro predominantemente sunita, vindo da manifestação diária do Hezbollah, queriam criar um conflito entre os grupos religiosos.

“Eles querem se livrar de nossas armas e estão comprando armas”, acusou Nasrallah, referindo-se a seus adversários. “Digo ao governo e a suas milícias: rejeitamos a guerra entre os grupos religiosos. E nossa permanência nas ruas é pacífica. Pedimos paz.”

“Digo a todos na região que na guerra civil e religiosa, todos perdem: Iraque, Palestina, todo mundo”, prosseguiu Nasrallah, que fazia pausas para as ovações e palavras de ordem, demonstrando que também estava vendo sua audiência. “O benefício será só para a América e Israel. Nunca iremos à guerra, mesmo que vocês matem não só Ahmed Mahmud, mas mil como ele.”

Nasrallah convocou os simpatizantes para mais uma grande manifestação no domingo – rejeitando, na prática, os apelos do governo e de líderes religiosos cristãos para que transfira a batalha política das ruas para o Parlamento, que segue paralisado. Tanques e soldados do Exército vigiam as ruas de Beirute e cercam as áreas em torno do palácio do governo e do Parlamento.

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