Notícia foi recebida com ceticismo por causa do fracasso de sexta-feira
GAZA – O governo israelense e o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, aceitaram ontem uma trégua de 72 horas proposta pelo Egito, que deve entrar em vigor hoje, em horário ainda não definido. O anúncio foi recebido com ceticismo, diante do fracasso da trégua de sexta-feira, que durou apenas 1h30, e de uma turbulenta trégua de 7 horas declarada unilateralmente por Israel ontem, sem a adesão do Hamas.
A trégua terminou ontem às 17 horas locais (11 horas em Brasília), com troca de acusações de ataques dos dois lados, e dois atentados em Jerusalém. O objetivo da trégua, assim como a que deve começar hoje, era permitir a distribuição de ajuda humanitária e o retorno de famílias desabrigadas a suas casas, para verificar o que restou e recuperar pertences.
O repórter do Estado viajou ontem para Khan Yunis, 32 km ao sul de Gaza, e constatou uma redução da presença israelense na região, a mais afetada pelos bombardeios. Depois das 17 horas, os disparos de mísseis e de artilharia retomaram a intensidade habitual em Gaza.
Os palestinos acusaram Israel de bombardear um campo de refugiados em Gaza, matando uma menina de oito anos e ferindo 29 pessoas. Segundo eles, o ataque aéreo teria ocorrido depois das 10 horas, horário anunciado para o início da trégua.
Uma porta-voz militar israelense, citada pela agência Reuters, garantiu que não houve ataques das 10 às 17 horas. Por sua vez as Forças de Defesa Israelenses (IDF, na sigla em inglês) afirmaram que 53 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza ontem, e dois caíram em Israel. Não há informações de feridos.
Em Jerusalém, um palestino que dirigia uma retro-escavadora atropelou um israelense e virou um ônibus, antes de ser morto pela polícia, que qualificou o incidente como atentado terrorista. O palestino foi identificado como Mohamed Jaabis, de 20 anos, morador do bairro de Jerusalém Oriental. Não havia passageiros no ônibus, mas o motorista ficou ferido. O Hamas elogiou o ataque, qualificando-o de “uma reação natural aos crimes israelenses contra civis” na Faixa de Gaza.
Horas mais tarde, um homem feriu gravemente a tiros um soldado israelense perto da Universidade Hebraica em Jerusalém, fugindo em seguida em uma motocicleta, segundo a polícia.
Apesar da visível redução da presença de tropas terrestres israelenses na Faixa de Gaza, a operação de destruição de túneis continua, motivo pelo qual a cidade de Rafah, 36 km ao sul de Gaza, na fronteira com Israel, ficou de fora da trégua.
“A campanha na Faixa de Gaza continua”, afirma uma nota divulgada pelo gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. “O que está prestes a terminar é a ação nos túneis, mas a operação acabará depois que um prolongado período de calma e segurança for restaurado para os cidadãos israelenses.” Depois da destruição dos túneis, continuará havendo soldados israelenses dos dois lados da fronteira, advertiu o governo.
O número de palestinos mortos na ofensiva iniciada dia 8 chegou a 1.831, a maioria civis. Do lado israelense, foram 64 soldados e 3 civis mortos até agora.
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