No sermão mais importante da semana, imam lembra que “em toda a sua história, os judeus defenderam a morte dos que não são de sua religião”
GAZA – Na oração do meio-dia de sexta-feira, a mais importante da semana, os fiéis da Mesquita Al-Nur (A Luz), edificação grande e nova na região central de Gaza, ouviram ontem um eloquente incentivo para apoiar o Hamas e seguir adiante na luta contra Israel. O imam (líder religioso) Wael al-Zard, conhecido por seu apoio ao Hamas, vinculou a “jihad” contra Israel à promessa do paraíso.
“Temos de olhar para a vida eterna, não devemos ter medo de nada que Israel faz”, disse o imam, enquanto do lado de fora se sentiam os estrondos dos disparos da artilharia israelense. “No fim, nosso Deus vai nos recompensar. Temos de continuar no nosso caminho da jihad, porque Deus nos diz para continuar. E em breve venceremos, porque estamos com a resistência.”
Al-Zard afirmou que o “Exército da resistência”, como são chamados os combatentes islâmicos, “não vai parar agora, antes de conquistar tudo o que queremos”, referindo-se ao fim do bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza desde que o Hamas assumiu o seu controle, em 2007.
“Os árabes nos deixaram sós, não nos apoiaram nessa guerra”, lamentou o imam. “Temos de acreditar em nosso Deus, não deixar ninguém dizer para pararmos essa guerra, antes da abertura dos postos de fronteira e do mar. Não haverá paz em Israel se não houver em Gaza.”
O imam lembrou que “em toda a sua história, os judeus defenderam a morte dos que não são de sua religião”, e argumentou que a “resistência tem de fazer tudo o que puder para matar os soldados israelenses”. Ele concluiu: “Vocês não devem deixar o medo controlar seus corações, porque nosso Deus está do nosso lado e somos mais fortes do que Israel ou qualquer um que queira nos matar. Deus nos prometeu que mataremos todos os israelenses e libertaremos nossa terra”.
A pregação coincidiu com a retomada dos bombardeios israelenses, depois da morte de dois soldados e a captura de um terceiro, em uma emboscada do Hamas, em um túnel no sul da Faixa de Gaza. O repórter perguntou a moradores de Gaza como se sentiam com relação ao fim da trégua e ao seu motivo. “Os israelenses vão continuar fazendo o que já fizeram”, disse Mohamed Nabil, de 26 anos, contador desempregado, citando locais bombardeados. “Acredito que a resistência vá vencer, no fim.”
Seu irmão, Momen, de 22 anos, que estudou relações públicas e também está desempregado, argumentou: “Os israelenses não são melhores que os palestinos. Temos o direito de capturar soldados israelenses”.
Para o empresário Ziyad Hijazi, de 53 anos, a captura do soldado, anunciada por Israel e negada pelo Hamas, “é mentira”. Hijazi, que tem uma indústria de produtos plásticos, uma companhia de transportes e uma distribuidora de material de construção, disse que a atividade econômica ficou “abaixo de zero” por causa do conflito, iniciado no dia 8. Mas o empresário não responsabilizou o Hamas. “A solução é Israel pôr fim urgentemente ao bloqueio, e deixar as pessoas viverem livres”, afirmou. “É preciso uma solução política entre Israel e a Palestina.”
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