No 1.º dia de trégua, Catar já avalia reconstrução

Governo do Hamas estima danos em US$ 6 bilhões

BEIT HANUN, Faixa de Gaza – Funcionários do governo do Catar, que patrocina o Hamas, aproveitaram o primeiro dia de trégua para vistoriar a devastação em Beit Hanun, 7 km ao norte de Gaza. A cidade foi uma das mais castigadas pelos mísseis disparados de aviões e navios e pelos tanques israelenses, por causa da presença de baterias de foguetes do Hamas, e da proximidade a Tel-Aviv.

Mazen Mohamed, um dos quatro funcionários, de origem palestina, disse que o grupo pertence a um recém-criado Comitê de Reconstrução de Gaza. Eles conversavam com moradores do bairro de Salah, onde estão as casas de mais alto padrão da cidade. Não quiseram adiantar se o rico emirado do Golfo Pérsico arcaria com os custos da reconstrução, que o ministro de Obras Públicas e Habitação da Faixa de Gaza, Mufid Hassayna, estimou em US$ 6 bilhões.

Segundo o ministro, 5.510 moradias (casas e apartamentos) foram destruídas e outras 30.920, parcialmente danificadas pelos ataques israelenses. A situação lembra a guerra de 2006 entre Israel e o grupo xiita Hezbollah no Líbano. Terminado o conflito, a reconstrução foi imediatamente iniciada, com patrocínio do Irã.

O policial Shadi Masri disse que sua casa valia no mínimo US$ 130 mil. Nela moravam 30 pessoas – como é comum nas extensas famílias árabes: suas duas mulheres, 11 filhos, seus pais, irmãos, cunhadas e sobrinhos. Eles continuaram vários dias no amplo sobrado, depois do início da ofensiva israelense. Dormiam todos no andar debaixo. Até que os projéteis começaram a atingir a casa e tiveram de fugir. A família está morando em escolas.

“Não havia militares neste bairro”, assegurou Masri. “Israel atacou os civis porque não tinha como atingir os militares, e queriam punir os palestinos.” Ele mesmo conta que perto de sua casa moravam no entanto pessoas como Yahya Harawa, libertado da prisão em Israel mediante troca de prisioneiros com o Hamas. Além disso, o Estado constatou que as casas de vários policiais como ele foram bombardeadas.

No cemitério de Beit Hanun, também destruído pelos bombardeios, parentes e militantes do Hamas enterravam ontem o corpo do combatente Mohamed Abu Oda. Ele foi morto no bombardeio da casa de seus tios, que também morreram, assim como outros dois familiares. Oda havia capturado e matado um militar israelense. “Ele era membro das Brigadas Izzaddin al-Qassam”, disse ao Estado um integrante do Hamas, referindo-se ao braço armado do grupo. “Estamos orgulhosos dele. Não diga que era civil.”

Em Beit Hanun está também uma das três escolas da ONU atingidas por tanques israelenses. O pedreiro Bassan Hamdaan, que presenciou o ataque, contou que às 15 horas do dia 25 o prefeito de Beit Hanun, Sofran Hammond, veio avisar que Israel tinha alertado para esvaziar a escola, porque ia disparar seus tanques dentro de 3 horas, por causa de atividades militares do Hamas na área. No entanto, 5 minutos depois, os tanques começaram a disparar. Havia 1.250 pessoas abrigadas na escola, e muitos não tiveram tempo de fugir: 17 morreram, a maioria mulheres e crianças, e 150 ficaram feridas. 

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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