Pesquisa feita em Gaza e na Cisjordânia mostra também que líder do grupo venceria Abbas em eleição presidencial
A primeira pesquisa de opinião na Cisjordânia e na Faixa de Gaza depois da guerra com Israel mostra que, apesar da morte de mais de 2 mil palestinos e da destruição de 6 mil casas, os moradores dos territórios consideram que o Hamas foi o vencedor. Pela primeira vez em oito anos, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, derrotaria o presidente da Autoridade Palestina, o moderado Mahmoud Abbas, em uma eleição presidencial.
A maioria dos palestinos também aprova os métodos do Hamas e acredita que o confronto militar é a solução para o conflito com Israel. A pesquisa foi realizada pelo Centro para Pesquisas sobre Políticas e Opinião, nos dois territórios palestinos, entre os dias 26 e 30.
Com apoio da Fundação Adenauer, da Alemanha, e de universidades americanas, o instituto realiza sondagens a cada dois meses nos territórios e ouviu 1.270 adultos em 127 localidades. A margem de erro é de 3 pontos. Dos entrevistados, 70% disseram que o Hamas venceu a guerra em Gaza; 3%, que foi Israel; os outros 17% acham que ambos saíram perdendo.
Uma arrasadora maioria de 86% dos palestinos apoia o lançamento de foguetes da Faixa de Gaza contra Israel enquanto o bloqueio do território for mantido. Dos entrevistados, 60% negam que o Hamas dispare foguetes de áreas povoadas – embora a reportagem do Estado tenha presenciado lançamentos de uma área residencial repleta de edifícios ao lado dos hotéis onde estavam jornalistas – e 30% afirmam que o grupo os dispara. De qualquer forma, 49% acham isso justificável e 46%, não.
Quase todos os ouvidos, 94%, dizem-se satisfeitos com o desempenho militar do Hamas no confronto com as forças israelenses e 78% com a defesa dos civis de Gaza. A maioria, 53%, acredita que o confronto armado é o meio mais efetivo para estabelecer um Estado palestino; apenas 22% apostam na negociação e 20%, na resistência não violenta.
Se a eleição presidencial – que ainda não está marcada – fosse hoje, Haniyeh seria o vencedor pela primeira vez desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2006, com 61% dos votos, seguido de Abbas, com 32%. Na sondagem anterior, dois meses atrás, no início da escalada contra Israel, Abbas derrotava Haniyeh por 53% a 41%. Haniyeh é mais popular na Cisjordânia, que não sofreu bombardeio israelense e não é governada pelo Hamas, do que na Faixa de Gaza: ele teria 66% dos votos na primeira e 54% na segunda.
Haniyeh derrotaria até mesmo Marwan Barghuti, popular líder da Segunda Intifada (levante palestino iniciado em 2000), que está preso em Israel. Em uma hipotética disputa entre os dois, o líder do Hamas venceria por 49% a 45%. Isso também é inédito, desde que o Hamas venceu as eleições parlamentares de 2006, mas foi impedido de governar pelo Fatah, a facção moderada de Abbas, com apoio dos EUA e da Europa. No ano seguinte, o Hamas expulsou militarmente o Fatah da Faixa de Gaza e passou a governá-la, enquanto o grupo de Abbas administrava a Cisjordânia. De lá para cá, não houve mais eleições.
Em abril, os grupos se reconciliaram, formando em junho um governo de união nacional. O acordo foi resultado do enfraquecimento de ambos: do Fatah, pelo fracasso das negociações com Israel, e do Hamas, pela perda do apoio do Egito, que também passou a bloquear a Faixa de Gaza, depois que os militares derrubaram em julho de 2013 o presidente Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, aliada do grupo.
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