Atentado contra caminhão do Exército que escoltava observadores da ONU pode representar nova tática dos rebeldes
Um atentado a bomba contra um caminhão do Exército sírio que escoltava um comboio dos observadores da ONU nesta quarta-feira na província de Deraa, no sul do país, combinado com declarações dadas pelo coronel Riad Asaad, comandante do Exército Sírio Livre (ESL), pode representar a entrada do conflito sírio em uma nova fase.
O capitão-de-mar-e-guerra brasileiro Alexandre Feitosa, responsável pelo planejamento da missão da ONU na Síria, confirmou ao Estado que o atentado ocorreu, mas desmentiu a informação de que seis ou sete militares sírios teriam ficado feridos, conforme as versões divulgadas pelas agências internacionais de notícias. Feitosa, que não estava no comboio mas reuniu-se com os integrantes da escolta do Exército sírio, disse que apenas um tenente sírio ficou ferido, e ainda assim levemente.
A bomba explodiu na beira da estrada segundos depois de passarem os três veículos da ONU. A autoria do atentado não foi reivindicada, mas, na entrevista publicada mais cedo pelo jornal Asharq al-Awsat, o comandante dos rebeldes deixa claro que esse tipo de ação seria levado a cabo pelo ESL.
“Não vamos ficar de braços cruzados porque não podemos tolerar e esperar enquanto assassinatos, prisões e bombardeios continuam apesar da presença dos observadores (da ONU), que foram convertidos em falsas testemunhas”, disse Asaad, de acordo com o jornal de língua árabe, publicado em Londres por uma empresa saudita próxima à família real de seu país, que por sua vez apoia a insurgência na Síria. “Atentados a bomba não são parte de nossa ética, e não precisamos deles”, descartou o coronel, para emendar em seguida: “Nosso objetivo é alvejar veículos militares e empregar exclusivamente artefatos explosivos.” Foi exatamente o que ocorreu.
A autoria do ataque não foi reivindicada. Mas essas declarações críticas à missão da ONU e a definição dos veículos militares como alvo de ataques com explosivos fazem recair a suspeita fortemente sobre o ESL. Se isso se confirmar, fica caracterizada uma oposição armadas dos rebeldes contra a presença da ONU na Síria. Seria um enorme complicador da situação, tanto do ponto de vista militar quanto político.
O capitão-de-mar-e-guerra brasileiro disse ao Estado que os observadores da ONU “estão preparados para esse tipo de ameaça”, que ela “faz parte da análise de risco” deles e que o ataque “não foi uma surpresa”. A missão da ONU conta, para seus deslocamentos e seus postos fixos de observação, já montados em Damasco, Deraa, Homs, Hama, Idlib e Alepo, com a proteção do Exército sírio leal ao regime de Bashar Assad. Seu trabalho só será possível se os observadores forem aceitos como neutros pelos dois lados. Se passarem a ter de se defender de ataques, com a ajuda das forças regulares sírias, os militares da ONU poderão ser arrastados para o conflito que pretendiam apartar.
Politicamente, eventuais ataques sistemáticos dos rebeldes à missão da ONU os desqualificariam como interlocutores não só de uma saída negociada para o conflito, mas, o que é muito mais significativo e concreto para eles, como destinatários de ajuda financeira e militar por parte de americanos, europeus, turcos e das monarquias árabes do Golfo Pérsico.
Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.