Passada uma hora, um general veio conversar com os manifestantes, chegaram dez partidários de Assad e o ato foi encerrado
DAMASCO – Eram 10h50 em Damasco (4h50 em Brasília) quando eles começaram a abrir timidamente suas faixas, sem saber exatamente o que aconteceria. Há um mês, uma passeata na mesma Praça Al-Jihad, na região central da capital síria, durou apenas 10 minutos. Foi o tempo que as forças de segurança levaram para chegar e dispersar os oposicionistas.
Dessa vez, o protesto durou uma hora, e reuniu 150 pessoas – muitas delas, mulheres. Os policiais e agentes da Mukhabarat, a polícia política, apenas acompanharam. Convocada pelo Comitê de Coordenação Local, foi a primeira manifestação em Damasco não reprimida, em cumprimento a um dos seis pontos do plano do mediador da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, que prevê a tolerância a protestos pacíficos.
O Comitê reúne 14 partidos e pela primeira vez também realizou um ato em conjunto com o partido Construindo o Estado Sírio, liderado pelo oposicionista Louay Hussein, que pertence à minoria alauíta, a mesma do presidente Bashar Assad, e que costuma ser identificada como simpatizante do regime.
As faixas diziam: “Continuação da revolução pela liberdade e dignidade”; “Pela libertação dos prisioneiros políticos na Síria”; “Chega de derramamento de sangue sírio”, e “Democracia na Síria e reconhecimento dos direitos do povo curdo.” Os curdos, uma minoria não árabe, representam cerca de 10% dos 22 milhões de sírios, e seu partido, PYD, vinculado ao PKK da Turquia, também faz parte do comitê. Os curdos sírios reivindicam autonomia e direitos como o de poderem ensinar sua língua nas escolas.
“Como você pode ver, todas as pessoas que estão aqui são sírias”, disse, numa referência às acusações do regime de interferência estrangeira, o médico Assem Kubtan, professor em uma faculdade privada de Damasco e membro do Partido da União Nacional do Socialismo. “Estão aqui para pedir paz, liberdade e democracia, e para restaurar sua dignidade.” Kubtan contou que ficou 11 meses preso no começo da rebelião, em março do ano passado. “No momento, não estou sendo perturbado, mas só Deus sabe.”
Passada uma hora, um general veio conversar com alguns dos líderes da manifestação, que decidiram encerrá-la. Nisso, chegaram cerca de 10 partidários de Assad. Eles traziam um pôster do presidente e gritavam: “Alá, Síria, Bashar e nada mais.” Jovens adultos fortes e prontos para a briga, eles eram típicos membros da tropa de choque do regime. Os oposicionistas foram embora, evitando um confronto.
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