Observadores da ONU são recebidos como herois

Moradores de vilarejos da província de Deraa saem às ruas para denunciar o regime

HERAK, Síria – Enquanto a missão avançada de observadores fazia seu primeiro contato direto com os moradores na província de Deraa, no sul da Síria, o governo sírio e a ONU firmaram ontem um acordo preliminar que abre caminho para a ampliação do contingente. Os observadores foram recebidos como herois nas três cidades que visitaram. Centenas de moradores os rodearam em cada lugar onde pararam, e contaram que os tanques e tropas tinham sido retirados só ontem por causa da sua vinda.

Aos cinco observadores da equipe avançada estão se somando gradualmente outros militares da ONU, que deverão chegar a 30 integrantes, conforme resolução do Conselho de Segurança aprovada no sábado. Com o acordo firmado ontem, o Conselho deve aprovar nova resolução, autorizando a ampliação para 250 a 300 observadores. A Síria pretende influir na escolha da nacionalidade dos militares, e dá preferência a Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, considerados países mais amigáveis ao regime de Bashar Assad. O capitão-de-mar-e-guerra brasileiro Alexandre  Feitosa já faz parte da equipe avançada.

A equipe partiu ontem de manhã de Damasco em dois jipes da ONU, escoltados por um batedor e dois carros com agentes de segurança sírios. Ao chegar perto da entrada da primeira cidade que visitariam, Harbet Ghazali, 100 km ao sul de Damasco, a escolta deixou os veículos da ONU seguirem sozinhos, juntamente com o carro do repórter do Estado, o único jornalista que cobriu a visita. Duas equipes de TV sírias, que acompanhavam o comboio na estrada, ficaram para trás.

A missão foi recebida com festa pelos moradores. Líderes locais fizeram relatos sobre a situação nas três cidades visitadas, enquanto os moradores faziam manifestações contra o regime e relatavam atrocidades ao repórter do Estado.

Falando em árabe, o coronel marroquino Ahmed Himmiche, comandante da equipe avançada, perguntou aos moradores se normalmente havia tanques e tropas ao redor de suas cidades. Eles responderam que sim, e que haviam sido retirados apenas por causa da vinda da missão. Um dos seis pontos do plano de paz do mediador da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, é o fim do cerco das cidades pelo Exército sírio. Um morador de Assura disse ao Estado que normalmente 20 tanques cercam a cidade, e que há barreiras militares em todos os seus 13 acessos.

Himmiche explicou à população que observadores da ONU seriam “hóspedes” deles, e viriam morar em suas cidades, para monitorar o cessar-fogo em vigor há uma semana. Ele e os outros quatro militares da ONU eram seguidos pelas ruas e avenidas por centenas de moradores que gritavam: “Deus é maior”; “O povo quer a queda do regime”; “O povo quer exterminar o presidente”,  e “Não nos curvamos a Bashar”, dentre outras variações.

Outro morador de Assura disse ao Estado que as pessoas comuns não podem sequer atravessar a avenida que corta a cidade, porque são alvos de franco-atiradores. Moradores de várias localidades disseram que, depois que os observadores deixassem os lugares, eles seriam duramente castigados pelas manifestações.  Os moradores de Assura e Herak diziam que Busran Harir, a 8 km dali, estava sendo bombardeada naquele momento (por volta de 14h30 locais).

O Observatório Sírio de Direitos Humanos, baseado em Londres, informou mais tarde que as forças de segurança sírias abriram fogo em Herak logo depois da saída dos militares da ONU. Segundo o Observatório, seis pessoas foram mortas no país ontem, dentre elas duas em Homs, no centro-oeste, alvo de disparos de tanques. A missão de observadores teve autorizada sua ida a Homs amanhã.

Muitos moradores se aproximaram do repórter para contar que seus filhos, pais ou primos foram mortos, presos ou simplesmente desapareceram. Uma mulher em Harbet Ghazali teve o filho morto e a casa queimada. Outra em Herak disse que tanto seu filho quanto seu marido desapareceram. 

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