Seis crianças têm rostos desfigurados em massacre

Massacre causa temor de que regime sírio parta para punições coletivas em áreas antes ocupadas pelos rebeldes

ANTAKYA, Turquia – O massacre de ao menos 16 pessoas, incluindo 6 crianças que tiveram seus rostos desfigurados em Homs, no centro-oeste da Síria, despertou preocupações de que o regime sírio possa partir para punições coletivas contra moradores de áreas antes ocupadas pelos rebeldes. Depois da tomada de Homs, há 10 dias,  milicianos chamados de “shabiha” (“fantasmas”, em árabe), que atuam como uma força clandestina em favor do regime, foram reconhecidos pelos moradores ao entrar nas casas durante a noite e cometer atrocidades.

Vídeos publicados nas redes sociais mostram crianças com os rostos mutilados, aparentemente por instrumentos cortantes, assim como os corpos de adultos cobertos por lençóis. De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos, baseado em Londres, foram ao menos 16 mortos. Já segundo os Comitês de Coordenação Local, 45 pessoas morreram.

Ativistas afirmaram que um carro-bomba explodiu em Daraa, no sul da Síria, onde a rebelião começou no dia 15 de março do ano passado, e completará um ano na quinta-feira. A explosão ocorreu perto de uma escola para meninas, mas aparentemente o alvo era um veículo militar. As informações são desencontradas. Um ativista disse à agência Reuters que uma aluna morreu e 25 ficaram feridas. Já o Observatório informou que três agentes das forças de segurança que estavam no veículo militar foram mortos. Outro ativista afirmou que ninguém morreu na explosão.

Os combates continuam nas proximidades da cidade de Idlib, no noroeste da Síria, ocupada no fim de semana pelas forças leais ao presidente Bashar Assad. O Exército Sírio Livre (ESL) retirou-se da cidade, mas tem havido confrontos na província ao redor, de mesmo nome.

Um oposicionista sírio que cruzou ontem à tarde a fronteira contou ao Estado que os combatentes rebeldes destruíram dois tanques na noite de domingo. “Mas para isso morreram sete combatentes do ESL”, relatou. “Um tanque que estava mais distante disparou contra eles.” De acordo com o oposicionista, os combatentes dispararam foguetes portáteis, conhecidos pela sigla RPG, contra os tanques. “De cada 5 RPGs, um funciona e os outros quatro falham”, queixou-se ele. “Se todos funcionassem, teríamos destruído todos os tanques deles.” O ativista explicou que esses RPGs em mau estado vêm do Iraque. “Os do Líbano são melhores, mas está quase impossível agora passar com eles pela fronteira.”

O oposicionista contou ainda que os pilotos estão presos em seus tanques, com as portas trancadas por fora, para evitar que eles desertem. Relatos semelhantes ocorriam na Líbia também.

O ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan disse ontem em Ancara que a comunidade internacional precisa pressionar a Síria a pôr fim à matança. “Há relatos de atrocidades e abusos graves e terríveis”, qualificou Annan, enviado da ONU e da Liga Árabe à Síria. “A matança de civis precisa parar. O mundo tem de mandar uma mensagem clara e unida sobre isso.” Annan fez as declarações depois de se reunir ontem à tarde com o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Mais cedo, ele esteve no Catar, que tem defendido o fornecimento de armas aos rebeldes.

No sábado e no domingo, o diplomata reuniu-se com Assad, e pediu um cessar-fogo, a libertação dos prisioneiros políticos e o acesso irrestrito das agências humanitárias à população. Assad respondeu que desejava uma saída política, mas que isso não seria possível enquanto “grupos terroristas armados” estivessem agindo na Síria.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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