Forças do regime de Assad investem contra cidade de Deraa, cuja população está confinada sem luz, água e telefone; 365 são detidos
BEIRUTE – Tanques do Exército sírio abriram fogo ontem na área em que estão as ruínas romanas em Deraa, cidade com pelo menos 3.500 anos de história, no sul do país. Tropas apoiadas por veículos blindados e franco-atiradores patrulham as ruas da cidade de 80 mil habitantes, epicentro da revolta de seis semanas contra o governo, impedindo os homens de sair de casa. Confinados, sem água, eletricidade, gasolina, telefone e internet há uma semana, os moradores gritavam ontem de suas janelas “Allah-u-Akbar” – Deus é grande.
De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, o número de mortos desde 18 de março, quando começaram os confrontos, chegou a 545 civis e 86 militares e policiais. Desses, a maioria são de Deraa, onde os protestos tiveram início, depois que três adolescentes foram presos por terem feito pichações contra o governo. Apesar da implacável repressão, os protestos se espalham por todo o país. Centenas de pessoas continuam sendo presas, segundo relatos de testemunhas.
A ativista de direitos humanos Razan Zeitouneh, de Damasco, que está escondida com seu marido, contou que o irmão dele, de 20 anos, foi preso quando esteve na casa do casal, para verificar se estava tudo em ordem, na tarde de sábado. O rapaz telefonou de dentro da casa dizendo que agentes de segurança estavam batendo na porta violentamente.
Uma hora depois, telefonou de novo, com a voz apavorada, dizendo para o casal ir até onde ele estava, porque precisava vê-los. “Ficou claro que ele estava sob pressão”, disse a ativista à Associated Press, usando um telefone via satélite Jornalistas estrangeiros são impedidos de entrar na Síria, e a cobertura é feita de Beirute.
Outros 200 membros do Partido Baath, do ditador Bashar Assad, renunciaram ontem, elevando para quase 500 o número de defecções. Um vídeo feito com celular mostra um integrante do partido anunciando sua saída depois que seu filho de 15 anos foi morto a tiros numa manifestação em Homs, terceira maior cidade, no oeste do país.
Em outras cidades sírias, as forças de segurança e o Exército prenderam pelo menos 365 pessoas. A maior parte delas foi detida em Deraa, Duma, Latakia, e Qamishli. De acordo com opositores e ativistas de direitos humanos, as prisões são arbitrárias.
“Desde hoje (ontem) pela manhã, soldados e membros das forças de segurança, apoiados por tanques e carros blindados entra nas casas, prendendo uma ou duas pessoas por vez”, disse à France Presse o ativista Abdullah Abizad. “Todos os homens maiores de 15 anos podem ser presos”. O objetivo das prisões, diz outro rebelde, é aterrorizar. “Eles detêm as pessoas a esmo, depois as libertam para prender outras.”
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