O noticiário das mortes nas escolas leva os que não estão familiarizados com a realidade da periferia a se perguntar sobre o porquê de tanta violência.
Um breve convívio nas escolas e no ambiente que as cerca desperta a pergunta inversa: como não ocorrem mais tragédias? Boa parte das escolas públicas da periferia de São Paulo – é claro que muitas há exceções – tem a atmosfera inteiramente envenenada, e não é só pela presença de meninos violentos, do álcool e das drogas.
Também não é apenas por causa das paredes sujas, dos vidros quebrados, das portas arrombadas, dos banheiros fétidos e das áreas mal iluminadas.
É, acima de tudo, pelo enorme abismo entre o que o professor diz e escreve nas salas de aula e a realidade e as expectativas dos alunos. Por um conteúdo monótono e aparentemente irrelevante, despejado por obrigação. Pela falta de perspectiva de essa matéria ser entendida e de ter qualquer utilidade para o jovem que quer melhorar de vida. Quando não está jogando fora seu tempo na sala de aula, o aluno faz isso no pátio, à espera do professor que não veio. É nesse cotidiano sem sentido que a violência parece não só natural, mas até pequena.