Para especialistas e governo, participação é a solução

Novo secretário tenta sensibilizar professores e diretores para se abrirem à comunidade


Governo, especialistas e o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial (Apeoesp) concordam que a solução para os problemas da escola, tanto de violência quanto de má qualidade do ensino, está na participação da comunidade.

Na experiência de todos eles, as melhores escolas são aquelas que elegeram um Conselho Escolar representativo e em que a Associação de Pais e Mestres é atuante. A política do governo de autonomia das escolas na gestão de recursos e na escolha do material didático depende dessa participação para dar resultado. 

“Só com a participação a escola fica forte”, diz Alexandro Fernando da Silva, do Instituto Paulo Freire. O educador testemunhou isso na Favela Heliópolis, no Rio. A direção da escola procurou a comunidade, que tem sido forte nessa favela desde sua formação, em 1978. Foi criado Conselho Escolar e feito trabalho de “sensibilização” entre os professores e a comunidade. Uma professora que dava aula havia 25 anos na escola chorou ao ver as condições em que viviam os alunos. A aproximação fortaleceu a escola a ponto de os bandidos a respeitarem. 

Heliópolis é exceção, no entanto. “A sociedade brasileira tem um defeito enorme: não exerce nenhuma vigilância sobre o serviço que recebe”, diz a ex-secretária Rose Neubauer, ao comentar a constatação do Estado de que há escolas que não estão usando o material didático e os computadores que supostamente receberam do governo. 

    Alexandro Fernando da Silva anima oficina
    de rádio em escola de Osasco 

Além da falta de apetite da comunidade, há a resistência dos professores e diretores. “A gestão democrática da escola cobra muito das pessoas, vai na raiz das incompetências”, analisa a coordenadora pedagógica de uma escola de Osasco. ” Não abrem a escola para não ter trabalho, até no sentido físico, de ter que ir abrir o portão fora do horário de entrada e saída.” Apesar da má vontade do diretor, que, a cinco anos da aposentadoria, pede que “não contem com ele”, a coordenadora tem buscado a ajuda de organizações não governamentais para dar vida a sua escola. 

As queixas de professores não costumam atravessar os níveis hierárquicos seguintes. E os dirigentes de ensino não costumam ir ver de perto os problemas da escola. 

Se a participação é a solução, mas os interessados – os pais e alunos – não sabem disso e os que poderiam promovê-la – os diretores e professores – não a consideram proveitosa, o que fazer, então? O novo secretário da Educação do Estado de São Paulo, Gabriel Chalita, está tentando ganhar professores e diretores para essa causa. 

Chalita tem-se reunido com dirigentes regionais de ensino (89, dos quais ele já substituiu 20) e falado a diretores de escolas (6.100) e a professores (230 mil), na tentativa de tirá-los da defensiva, apelar para sua auto-estima, motivá-los e convencê-los dos benefícios da interação com a comunidade. Chalita, 33 anos, autor do livro Educação – A solução está no afeto, tem procurado mostrar também que as aulas podem ser mais concretas e mais próximas da realidade dos alunos, explorando temas de seu cotidiano. E que o bom comportamento pode-se obter pelo convencimento e o respeito. Exemplo: ao pegar um estudante colando, em vez de “fazer escândalo”, sair-se com a frase: “Não esperava isso de você.” 

Com sua abordagem pessoal, Chalita já coleciona histórias engraçadas nesses dois meses de gestão. Ao saber que uma diretora recusara um convênio com o Rotary, que lhe parecia bom, telefonou para “parabenizá-la” pela parceria. “Começa no sábado”, confirmou a diretora, feliz de receber o telefonema. “Não é preciso brigar”, conclui o secretário.

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