Mas Roberto Macedo, assim como agricultores, concorda que paralelismo com Alca dá resultados.
O Brasil deveria ter mais pressa nas negociações comerciais com a Europa e mais cautela com os Estados Unidos, país-chave na formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). É o que adverte o economista Roberto Macedo. Seu argumento é que os americanos são muito mais competitivos, não só no setor industrial, mas também no agrícola. “Um erro com os EUA será fatal”, diz Macedo, que, de 1995 até o ano passado, como presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), acompanhou as negociações comerciais nos âmbitos do Mercosul, da Alca e da UE.
“Nossa indústria pode ser trucidada pela indústria americana”, alerta, citando os segmentos automobilístico, eletroeletrônico e até o agroindustrial. Já a UE não preocupa tanto, segundo Macedo. “Alguns produtos (industriais) nossos são mais baratos do que os europeus”, diz ele, acrescentando que esses mesmos produtos são mais caros do que os similares americanos.
Uma vez concedido o mandato para a Comissão Européia negociar a liberalização do comércio com o Mercosul, sem exclusão do setor agrícola – uma reivindicação brasileira desde o lançamento do processo interregional, em 1995 -, o Brasil e seus parceiros do Mercosul assumiram uma atitude mais cautelosa, de menos pressa que os europeus, para aguardar novos desdobramentos no âmbito da Alca, e, com isso, aproveitar a geometria triangular desse processo.
Tanto assim que, na Cimeira, os europeus queriam definir como referência de prazo final para o acordo 2003, ano estimado para o término da Rodada do Milênio da Organização Mundial do Comércio (OMC), cujo lançamento está previsto para novembro. O Mercosul preferiu não fixar esse prazo. Um dos motivos é que as negociações da Alca devem acabar só em 2005 e o Brasil quer se ater ao triplo paralelismo OMC-UE-Alca.
O outro motivo para a falta de pressa é que os países do Mercosul necessitariam de tempo para preparar setores de sua indústria para a concorrência com os europeus. Embora refute essa noção, Macedo considera válida a estratégia brasileira de provocar, como ele diz, “ciumeira” nos EUA. “Principalmente por ter sido no Brasil, esse encontro teve caráter simbólico, emblemático”, ressalta. “Não deixa de ser um convescote, mas é preciso entender que essas negociações têm todo um ritual.”
Contra o relógio – O superintendente da Organização das Cooperativas do Brasil, Valdir Colato, também vê resultados na estratégia. “Os europeus estão correndo contra o relógio, com medo que os americanos façam um acordo conosco”, diz Colato, que participou do Forum Consultivo da Área Econômica e Social – reunião de empresários, trabalhadores e cooperativas das duas regiões, preparatória da Cimeira, dias 23 e 24, no Rio. Ele defende o “princípio da equivalência” nas negociações: “Não temos subsídios (agrícolas), enquanto eles têm e isso precisa ser levado em conta (num eventual acordo).” A CE emprega US$ 48 bilhões ao ano em subsídios agrícolas; a França, US$ 10 bilhões, para um faturamento de US$ 40 bilhões. “Não temos como enfrentar os Bancos Centrais da Europa”, conclui.
Os produtores estão otimistas. “A agricultura está definitivamente incluída na agenda econômica interna e externa”, festeja o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Luiz Hafers, aproveitando para mandar um recado ao presidente Jacques Chirac: “O protecionismo francês não é lenda: é lendário.”