Habituados a esperas infindáveis nos postos de saúde, os paulistanos associam o pronto-socorro à ideia de ser visto por um médico – ainda que depois de aguardar várias horas num ambiente deprimente.
A cultura do pronto-socorro, além de sobrecarregar uma estrutura cara montada para emergências graves, leva os pacientes a só passarem por médicos em crises agudas. Tratam sintomas, não causas – que devem ser investigadas nas UBSs ou nos ambulatórios de especialidades -, e condenam-se a voltar periodicamente ao pronto-socorro.
‘Na verdade, o paciente não quer ir ao hospital, mas ver um médico perto de casa’, estima o médico Antonio Lima, do Hospital Campo Limpo. Isso é a AMA. Em entrevista ao Estado, o prefeito Gilberto Kassab diz que gostaria de instalar 404 AMAs – ao lado de cada UBS. Mas deve chegar a cem.
Há um problema: a falta de médicos dispostos a trabalhar na periferia. Há centenas de vagas não-preenchidas. A prefeitura pretende atraí-los com a flexibilização da jornada de trabalho e o aumento no valor dos plantões. Se der um plantão semanal de 12 horas (R$ 600), o médico salta de um salário básico de R$ 2.200 para R$ 4.600.
Teme-se que as AMAs, que afinal oferecem pronto atendimento, prejudiquem a instalação de UBSs onde elas ainda não existem, como na favela Promorar, em Sapopemba, com cerca de 20 mil moradores. Lá, já se tem até o terreno para a UBS. ‘Não nos disseram isso, mas lemos no jornal que a AMA é prioridade e temos medo de que não cumpram a promessa da UBS’, diz Ivoneide Carvalho, do Movimento Popular da Saúde. ‘A UBS cumpre um papel importante: o da prevenção.’