Mensagens ultra-nacionalistas, antidemocráticas e homofóbicas contrastavam com perfil de grande parte do público na Avenida Paulista
Na manifestação deste domingo na Avenida Paulista pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, conviveram posições bastante diferentes e, em alguns casos, antagônicas. Alguns oradores faziam discursos homofóbicos, enquanto casais de homossexuais caminhavam de mãos dadas pela avenida. Dois dos cinco caminhões de som eram de grupos conservadores e ultra-nacionalistas. Mas seu número de simpatizantes era proporcionalmente menor.
No fim da tarde, a manifestação se estendia da Avenida Brigadeiro Luís Antonio até a Rua Bela Cintra – com muitos claros. Caminhando nessa direção, havia cinco caminhões de som, dos seguintes grupos:
- União Nacionalista Democrática. Com mensagens nacionalistas e de rejeição ao sistema político, seus oradores condenavam tanto os governos petistas quanto o de Fernando Henrique Cardoso. Na plateia havia defensores de uma intervenção militar e da monarquia.
- Vem Pra Rua Brasil. Movimento anti-esquerdista, combate a corrupção e a intervenção do Estado na economia. Seus oradores centravam suas críticas no PT e em outros partidos de esquerda.
- Movimento Brasil Livre. Antipetista e liberal, tem perfil e mensagens parecidos com o Vem Pra Rua.
- Movimento Liberal Acorda Brasil. Também liberal e antipetista, como os dois anteriores.
- Pátria Amada Brasil. Ultraliberal e nacionalista, seus oradores criticavam o casamento entre homossexuais, a introdução da noção de gêneros na educação e a descriminalização do porte de drogas, que será apreciada pelo STF esta semana. Interpretam esses movimentos como “ataques à família” e responsabilizam o PT, que acusam de envolvimento com o narcotráfico.
A maior concentração de pessoas estava em torno dos palanques do Vem Pra Rua Brasil, do Brasil Livre e do Acorda Brasil. A União Nacionalista e o Pátria Amada reuniam plateias menores.
Um orador do Pátria Amada Brasil celebrava ao microfone: “Tudo junto e misturado”.
As motivações para o impeachment da presidente são bastante diversas. Além da corrupção e do fracasso da economia, alguns grupos se insurgem contra o PT por motivos morais. Do peso dessas questões morais, para cada grupo, dependerá a coesão do movimento. Noutras palavras, a rejeição à corrupção e à má gestão dos governos petistas, que une os manifestantes, precisará continuar sendo mais forte do que suas diferenças de valores no campo do comportamento, para que eles possam permanecer juntos.
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