No rastro do Chacal, David Yallop descobre elos entre governos ocidentais e terrorismo
Falar com David Yallop nao é nada fácil. A conversa resvala demais. O escritor inglês vai desfiando um rosário de nomes, datas e locais, com quem, quando e onde esteve durante suas investigações. O interlocutor não consegue reter na mente as perguntas que programara, e a entrevista corre ao sabor das inúmeras implicações de cada frase de Yallop.
E o cenário de Até o Fim do Mundo, o livro que Yallop está lançando, não poderia ser mais intrincado: o Oriente Médio. O escritor viajou durante uma década pela região no rastro de Illich Ramírez Sánchez, mais conhecido como Carlos, o Chacal, uma das figuras mais enigmáticas do mundo. Yallop diz que esteve duas vezes com o Chacal, em 1978 e 1985. Durante a caçada, o escritor enveredou pelo mundo do terrorismo.
Na busca de pistas sobre o Chacal, diz que teve acesso a dados sobre a implicação de governos e de linhas aéreas ocidentais com grupos terroristas. Provas? Yallop despeja uma mala de fotografias, declarações e impressões digitais. Conversas noite adentro, regadas a uísque, pistas falsas que levam a conclusões válidas, mortes violentas de pessoas em seu círculo estreito são os ingredientes do novo livro de Yallop.
Esse repórter investigativo se consagrou mundialmente com o livro Em Nome de Deus (publicado no Brasil em 1984), no qual afirma que o papa João Paulo I foi assassinado, numa conspiraçao dentro da cúpula do Vaticano. Traduzido em quase 40 idiomas, o livro vendeu 4 milhões de exemplares.
Yallop falou com exclusividade ao Estado, de Buenos Aires, durante a campanha de lançamento de Até o Fim do Mundo na América do Sul. O escritor desembarca neste domingo no Brasil.
Estado – Qual é a revelação mais surpreendente de seu livro?
David Yallop – Há muitas revelações, envolvendo por exemplo os vínculos entre as companhias aéreas e os grupos terroristas, as ações da Casa Branca e da KGB. Há o fato de que Carlos (o Chacal) foi criado pelos serviços secretos ocidentais, entre eles o americano e o britânico, e que depois dessa criação, ou melhor, por causa dessa criação, ele matou muitas pessoas. Carlos saiu do controle.