Para Steven Monblatt, doações devem ser feitas diretamente para governos do Oriente Médio ou entidades como o Crescente Vermelho, evitando que o dinheiro financie o terrorismo
O diplomata americano Steven Monblatt, secretário-executivo do Comitê Interamericano contra o Terrorismo, da Organização dos Estados Americanos, OEA, chega hoje a Foz do Iguaçu, onde se encontrará com membros da comunidade muçulmana da Tríplice Fronteira. Monblatt fará a eles uma recomendação: tornar mais “transparentes” as doações para trabalhos de caridade no Líbano e nos territórios palestinos, de modo a evitar que o dinheiro caia nas mãos de grupos terroristas.
O diplomata, que chegou ontem ao Rio, disse ao Estado que, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, quando o Departamento de Estado americano, respaldado numa resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, fechou o cerco contra o financiamento a grupos terroristas, várias comunidades ao redor do mundo têm tomado medidas nesse sentido, para poder manter seus donativos.
Grupos como o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas e a Jihad Islâmica, nos territórios palestinos, mantêm orfanatos, hospitais e redes de assistência aos parentes de seus militantes mortos no conflito com Israel. E têm recebido dinheiro das comunidades por intermédio dessas entidades.
Monblatt vai sugerir às lideranças muçulmanas em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este que organizem seu sistema de doações e as enviem diretamente a entidades independentes como o Crescente Vermelho ou ao governo libanês e à Autoridade Palestina, exigindo que os recursos sejam destinados exclusivamente à assistência social.
“A iniciativa tem de partir da própria comunidade, que tem de desvincular suas doações das atividades terroristas”, disse Monblatt, ressaltando que essas são suas opiniões pessoais, e não uma posição oficial do Comitê Interamericano contra o Terrorismo. “Não conheço outra maneira de resolver esse problema.”
O diplomata, que até setembro era vice-coordenador de atividades antiterroristas do Departamento de Estado, enfatizou que não há dúvidas de que doações a entidades de caridade ligadas a grupos terroristas configuram atividade de apoio ao terrorismo.
“O envio de dinheiro para viúvas e órfãos de terroristas facilita o recrutamento de novos suicidas”, explicou Monblatt, acrescentando que parte do dinheiro pode ir diretamente para as atividades terroristas. “Saddam Hussein também mandava dinheiro para as famílias. Isso é ajudar o terrorismo.”
Segundo o diplomata, que trabalhou na embaixada americana entre 1965 e 1969, quando ela estava ainda no Rio, há nos Estados Unidos uma percepção generalizada de que no Brasil se realizam atividades de financiamento do terrorismo. “Todo mundo tem um carinho muito grande pelo Brasil”, disse Monblatt, que foi casado com uma brasileira. “Todo mundo quer que o Brasil se livre desse problema.” O diplomata participou, esta semana, de uma conferência sobre segurança na internet em Buenos Aires. Ele vem ao Brasil em caráter privado e vai aproveitar para conhecer as Cataratas