Militantes de vários pontos do planeta unem-se numa confederação horizontal, diz assessor israelense
TEL-AVIV – Há um ano e meio, as forças de segurança israelenses interceptaram um complô para implodir a Ponte Allenby, que liga Israel à Jordânia, um dos únicos países árabes, a exemplo do Egito, com os quais mantém relações diplomáticas. “Osama bin Laden já tentou atacar Israel um par de vezes, mas não teve sucesso”, orgulha-se Yarden Vatikai, assessor do Ministério da Defesa.
A pergunta, no entanto, é se esse quase ermitão, isolado nas montanhas remotas do Afeganistão, tem condições materiais de articular um ataque da envergadura do que foi desferido contra os Estados Unidos. Segundo os representantes do regime taleban, que o abriga no Afeganistão, Bin Laden não tem nem sequer telefone, o que não é inverossímil.
O grupo que ele lidera, Al-Qaeda (“a base”, em árabe) deve ter algumas centenas de militantes, estima o especialista israelense Ron Ben-Yishai, que passou um mês acampado com os mujahedin, os guerrilheiros que expulsaram os soviéticos do Afeganistão em 1989 (apoiados pelos americanos e pelo governo do Paquistão), e que deram origem a esse e a outros grupos fundamentalistas afegãos.
Mas a questão não é quantitativa nem geográfica, explica Ben-Yishai. Segundo ele, o que capacita Bin Laden a articular ataques dessa envergadura é a rede de conexões que se espalha por todo o planeta, formada justamente na “guerra santa” de dez anos contra os soviéticos, que atraiu voluntários de todo o mundo islâmico.
Ben-Yishai ilustra seu funcionamento da seguinte maneira. Um emissário de Bin Laden chega a um local como o Egito, as Filipinas, os territórios palestinos ou os Estados Unidos e procura, nas mesquitas, veteranos do Afeganistão ou companheiros de luta que têm aquela guerra vitoriosa como referência. Apresenta-se, trava amizade e pergunta ao contato local se ele sabe de um ou mais jovens dispostos a morrer pela causa. Sem fazer perguntas, o contato local lhe apresenta os jovens e lhe oferece infra-estrutura, diz Ben-Yishai. “Eles estiveram no Afeganistão, eles se entendem e se ajudam mutuamente.”
A missão passa a estar nas mãos do emissário e de seus cinco ou seis operadores locais. Não se trata de uma grande organização estruturada verticalmente, mas de uma “confederação de grupos militantes locais independentes”.
“O terrorismo islâmico atua da mesma maneira, seja numa discoteca em Tel-Aviv ou no World Trade Center de Nova York”, diz Yarden Vatikai, referindo-se ao padrão dos atentados suicidas. “Todos os grupos obedecem a fatwas”, decretos dos líderes espirituais islâmicos.
Abdulaziz Rantisi, porta-voz do Hamas (grupo radical que se opõe aos acordos de paz firmados em Oslo a partir de 1993 entre israelenses e palestinos), negou que o movimento islâmico palestino tenha ligações com Al-Qaeda e garantiu que ele só ataca Israel: “Se tivéssemos contatos com Bin Laden, todos já saberiam, porque não existem mais segredos no mundo.”