Maior onda de atentados dos últimos anos não significa necessariamente fim das negociações
A confirmação na semana passada da morte do líder dos taleban, o lendário Mulá Omar, ocorrida há dois anos, e as especulações sobre divisões no movimento transmitiram uma imagem de fragilidade do grupo, que negocia um acordo de paz com o governo do presidente Ashraf Ghani. A resposta veio nesse fim de semana: a maior onda de atentados dos últimos anos no Afeganistão deixou ao menos 77 mortos.
Um dos atentados suicidas, na noite deste sábado, teve como alvo milicianos que lutam contra os taleban na província de Kunduz, no norte do Afeganistão. Eu estive nessa região em 2004, quando já estava sob forte influência dos taleban e da Al-Qaeda. Desde então, com a retirada das forças americanas e da Otan, os taleban expandiram sua cobertura tanto sobre Kunduz quanto sobre outros territórios do Afeganistão.
Demonstrando capacidade de coordenação e sincronia do grupo, na sexta-feira, um suicida se explodiu no meio de cadetes da polícia em Cabul, matando 28 pessoas e ferindo 20, e em seguida um carro-bomba foi detonado em frente ao quartel-general das forças especiais americanas, abrindo caminho para o avanço de combatentes. Seguiu-se um tiroteio de cerca de uma hora. Um militar americano e oito guardas afegãos foram mortos. As forças especiais são o que restou da presença militar americana no país.
Os ataques não significam necessariamente o fim das negociações com o governo afegão. Na dinâmica do conflito afegão, os taleban têm realizado ataques não para abandonar a mesa de negociações, mas para negociar em uma posição de força.
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