JOHANNESBURG – Thamsanqa Nidmande não recorreria ao crime, mas entende aqueles que o fazem. “Eu tenho um dom para o artesanato e vivo numa área turística de Soweto. Para aqueles que não têm essa sorte, só resta roubar.” Enquanto o artesão fala, um Volkwagen Chico vermelho, com o som alto, dobra a esquina, levando quatro conhecidos puxadores de carro.
Se os negros pobres associam o fim do apartheid ao desemprego, os brancos de classe média o identificam com o aumento brutal da criminalidade. Num dos programas de maior sucesso da TV sul-africana, Crime Survivors, que passa nos domingos ao meio-dia, psicológos dão conselhos e “sobreviventes” compartilham suas experiências.
As paredes da sala de controle da segurança do Boulders Mall, um centro comercial no bairro de classe média de Midrand, estão cobertas de cartazes com as fotos de cerca de 200 procurados pela polícia. A maioria por furto. Todos negros.
A identificação entre criminalidade e cor da pele negra não tem contribuído para tapar o enorme abismo que separa as duas raças. “A única interação que a grande maioria dos brancos teve até hoje com os negros foi com empregadas domésticas e jardineiros”, descreve a socióloga Carol Allais. “Isso não mudou.” Segundo a socióloga, nas empresas em que há um “ambiente misto”, as relações são “muito cordiais”. Mas isso não quer dizer que brancos e negros visitem a casa uns dos outros. Só entre as crianças brancas e negras que estudam no mesmo colégio é que começa a haver um relacionamento normal de amizade.
O fim brusco do apartheid pegou os adultos, mesmo mais jovens, desprevenidos. “Foi uma mudança muito mais rápida do que eu esperava”, afirma Paul Jonker, de 30 anos, dono de uma pousada no norte de Johannesburg. “Nunca pensei que aconteceria no meu período de vida.” Muitos brancos – em geral profissionais liberais – deixaram a África do Sul durante a transição. “Alguns, por causa da explosão da criminalidade. Outros, porque não queriam compartilhar o país”, acredita Jonker.
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