Micheletti e Zelaya aceitam pontos de proposta de empresários

Golpista diz que deixará poder se presidente deposto se entregar à Justiça, o que este afirma estar disposto a fazer

TEGUCIGALPA – Os sinais de uma possível saída negociada para a crise ganharam força ontem, com uma aproximação entre as condições impostas pelo presidente de facto, Roberto Micheletti, para entregar o poder, e as concessões que o presidente deposto, Manuel Zelaya, declarou estar disposto a fazer. Os dois pontos-chave são a possibilidade de Zelaya ser julgado pelos supostos crimes que cometeu e a redução de seus poderes numa volta negociada até as eleições de 29 de novembro.

O presidente da Associação Nacional das Indústrias, Adolfo Facussé, afirmou que Micheletti aceitou proposta dos empresários, de deixar o cargo se Zelaya se submeter à Justiça e delegar a presidência a um conselho de ministros. “Se o senhor Zelaya disser que aceita (a proposta feita na terça-feira), terminou o problema”, declarou Facussé à agência France Presse após se reunir com Micheletti. De acordo com a proposta, que Micheletti rejeitara na quarta-feira, Zelaya seria restituído à presidência com poderes limitados, como prevê o Acordo de San José, e teria de responder aos 18 processos que acumula na Justiça.

Em encontro com seis deputados brasileiros na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, Zelaya se disse disposto a ser processado e julgado pelos crimes dos quais é acusado, e também a “abrir mão de boa parte de seus poderes”, segundo relatou ontem à noite o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), ao sair da embaixada brasileira. Zelaya advertiu que, se uma saída não for encontrada dentro de duas semanas, não haverá mais condições para realizar as eleições em novembro.

Zelaya foi destituído pelo Congresso em 28 de junho, sob acusação de não obedecer a decisões da Corte Suprema, que o impediam de realizar uma consulta popular sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte. A Corte também impugnou sua decisão de destituir o general Romeu Vásquez, comandante das Forças Armadas, que se recusara a realizar a consulta popular. Mas não houve julgamento pela Corte da destituição de Zelaya, que, portanto, não teve chance de defender-se.

Zelaya disse aos deputados brasileiros que alimenta expectativas em relação à missão da Organização dos Estados Americanos (OEA), que virá na próxima semana a Honduras. O presidente deposto afirmou que até agora não manteve nenhuma negociação com o governo de facto.

Em entrevistas que concedeu ontem, no entanto, Micheletti afirmou que mantém um canal de comunicação aberto com Zelaya por meio de um amigo em comum. Segundo Micheletti, esse amigo teria conversado com ele depois de ter visitado Zelaya na embaixada brasileira na semana passada. Entretanto, o presidente de facto rejeitou qualquer solução que envolva um governo de coalizão com o presidente deposto.

Cerca de 300 pessoas se reuniram ontem na frente da embaixada dos Estados Unidos em Tegucigalpa, para protestar contra o que consideram o governo “golpista” de Micheletti e pela volta de Zelaya ao poder. “Mel, aguenta, que o povo se levanta”, gritavam os manifestantes, chamando Zelaya por seu apelido. Centenas de policiais com escudos e bombas de gás lacrimogêneo observavam os manifestantes. 

COLABOROU WILSON PEDROSA

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*